Vou comentar, como faço nesse espaço, TROVAS, TROVINHAS E TROVÕES, uma trova classificada em primeiro
lugar no 5º concurso, da 5ª Etapa, intitulada Trovas para Uma Vida Melhor, na Busca da Paz, do Equilíbrio em
Sociedade.
O Tema escolhido foi CONSTRANGIMENTO.
Absolutamente não quero ser um desmancha-prazeres na busca da
paz e do equilíbrio em sociedade, o que, evidentemente, se assim procedesse,
não poderia estar a serviço de qualquer estética, muito menos a serviço de uma
vida melhor. Mas meus comentários críticos são sempre para melhorar o
desempenho de nossa poesia, expressa também por essa forma de poema fixo, a
trova, tradicional na lírica occitânica, em língua portuguesa.
A trova classificada em Primeiro lugar, de Julimar Andrade Vieira, de Aracaju, Sergipe, foi a seguinte:
“Constrangimento
terrível
o ser humano suporta,
ao ver seu sonho
impossível
tornar-se esperança
morta”.
Em primeiro lugar, o tema desenvolvido por qualquer trova
deve se apresentar em versos heptassilábicos, conhecidos como Redondilha Maior,
tradicional da lírica da Península Ibérica, desde o século XII. Depois, o
sentido, isto é, o significado que envolve os significantes deve estar
impecável, quanto à semantização de toda a estrutura material do poema. Em
outras palavras: a trova tem que ter sentido. Não pode ter meio sentido. E o
que dá sentido ao texto poético? São as
estruturas sintáticas, e suas combinações, não só entre forma e conteúdo, mas,
principalmente, entre as relações sintagmáticas na constituinte gramatical de
todos os vocábulos, envolvidos em sua construção, com todos os seus
significados denotativos, mesmo sendo empregados conotativamente, a serviço,
inclusive, de uma estética da hermenêutica. Ora, vejamos a interpretação da
referida trova de Julimar Vieira, acima transcrita.
O ser humano suporta muita coisa, inclusive constrangimentos
terríveis. Um deles é ver seu sonho POSSÍVEL tornar-se uma esperança morta. Aí
está o grande constrangimento. Mas o poeta usou o significante “impossível”, deixando o conjunto sem
nenhum sentido. Vamos burilar esses comentários. Sonhar é possível, pois todos
nós sonhamos. Portanto, todo sonho é possível, mas não pertence ao real e,
assim, não tem comprometimento com a vigília, além de não ter obrigatoriedade
com o realizável. Quando se atesta a impossibilidade do sonho, aí, sim, ele se
torna esperança morta, acabado, finalizado. Mas para que isso aconteça, o sonho
tem que nascer possível, sem aquele prefixo - IN - que tirou todo o sentido do pensar poético. A voz do poeta,
que materializou, em trova, esse pensamento, recheado de excelente conteúdo
filosófico, se confundiu com os significantes da língua, numa incompetência da
competência do falar, isto é, da parole, enquanto parte material da
langue. Por outro lado, pode haver nisso
tudo, também, uma grande inverdade, causando ao crítico um imenso
CONSTRANGIMENTO. Isso ocorreria se a presença desse incômodo prefixo de
negação, / IN / tivesse sido
colocado, pela empolgação de um copista distraído, fato que se caracterizaria
como uma ultracorreção gramatical, modificando totalmente estes comentários.
ATÉ A PRÓXIMA
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