Quantos me visitaram ?

12 de março de 2016

MEU FANTASMA DEU UM CHILIQUE







É muito bom andar pelo planalto catarinense, visitando as cidades de seu entorno. São várias. A maior é Lages e creio que a menor seja Ponte Alta, às margens da BR 116, a 16 km de Corrêa Pinto. Por aquelas bandas já estive com meu amigo fantasma. Lembro-me bem que ele se apaixonara perdidamente por uma alma penada que vagava por um casarão abandonado, ao lado de um posto de gasolina... Registrei em uma crônica do passado. Pois é, a pequenina cidade não mudou nada, desde aquela época. Voltara agora lá, para comprar uma abóbora redonda, própria para assar com os camarões, que eu trouxe do Mercado Público de Florianópolis. Seria a minha contribuição para a festinha, no sítio de um amigo, em São José do Cerrito, bem perto de Ponte Alta, que é considerada, por sua grande produção, a Capital Estadual da Moranga.  Tudo conspirava para que as coisas saíssem o mais certo possível, quando o meu amigo fantasma me veio com essa. Porque eu tinha porque tinha de viajar com ele naquela hora para muito longe dali, pois tinha algo que me mostrar em outros sítios muito distantes e que era de meu interesse, e sabia que era coisa que eu estava querendo ver e saber há muito tempo, e já estávamos atrasados, eu tinha de sair daquela região o mais rápido  possível... Não parava mais de falar! Tomei um baita susto. Argumentei que deixaríamos para depois da festinha de meu amigo, ficaria a viagem inesperada para o dia seguinte, pois tinha me comprometido com o grupo de levar um quitute e tudo mais. Responsabilidade é responsabilidade! Mas meu amigo estava irredutível. Queria me levar para outro lugar, alegando que eu não me arrependeria e não havia tempo a perder. Argumentei, então, com ar professoral, que o tempo dele, que vivia na eternidade, era diferente do meu, pobre mortal. Nós aqui na Terra estamos envolvidos por um sistema de significação diferente do dele. Nosso sistema de vida está na linha da sucessão contínua dos acontecimentos, uns depois dos outros e assim vai. Ele tinha de entender que o sistema simbólico dos mortais não é compatível com o dos santos e muito menos com o dos fantasmas. Quando alguma coisa interfere, dizemos que aconteceu um milagre. Disse-lhe que nem sabia por que convivia com aquele estado atípico de relacionamento com gente do outro mundo, com uma outra ordenação das coisas. Aí meu amigo se zangou. Não sou gente. Sou fantasma, e seu amigo! Espargiu uma nuvem branquinha e apitou como se fosse uma Maria Fumaça derrapando nos trilhos, querendo subir a serra e sumiu. Parece é que desceu para o litoral ou, quem sabe, se recolheu para meditar sobre o que havia escutado de mim, a  respeito de nossa existência no real. Voltei ao hotel com a minha abóbora. Em cima da cama havia um bilhete úmido. Estava escrito: Fui para o Rio de Janeiro.


ATÉ A PRÓXIMA

10 de março de 2016

VISITANDO LAGES MAIS UMA VEZ



               

Visitando Lages, no centro do Planalto Catarinense, região em que lá não ia, há uns três ou quatro anos, fiquei impressionado pelo rápido desenvolvimento do município, principalmente por ter a cidade dado um passo importantíssimo na arrumação comercial de sua estrutura de negócios, pois foi construído, à margem da BR 282, que sobe do litoral para a serra, um moderníssimo Shopping, afastado bastante do centro da cidade que nunca experimentara uma forma assim de trabalhar com o fascínio da compra. O moderno empreendimento é um centro fechado de comércio fragmentado, com modernas lojas de marcas, conhecidas nacionalmente. Antes, a cidade havia timidamente lançado uns corredores de pequenas lojinhas, com pouca variação de produtos, chamando aquilo de Shopping. A bem da verdade, eram pequenas e simpáticas lojinhas que davam à população a impressão de modernidade comercial. Mas a modernidade mesmo veio com a inauguração do "Lages Garden Shopping" , o primeiro verdadeiro shopping da Serra Catarinense. Conversando com o pessoal da sua administração e com alguns de sua implementação, soube que está estrategicamente colocado na saída do planalto e na encruzilhada dos destinos de “los hemanos”, que se precipitam, no verão, para as praias azuis de Florianópolis.  Mas refleti, também, naquele precipitar em direção à baixada. Na direção dos caminhos dos tropeiros do século XVIII. Vieram à minha mente muitas leituras que fiz, a respeito da origem do nome da cidade de Lages. Realmente, seu nome parece que se prende ao termo indígena, de origem tupi, “haué”, que significa ATALHO, que evoluiu foneticamente para LAJE. Posteriormente (1960) passou, por força de Lei, a ser grafado com –G-, mas sem nenhuma relação com a formação geológica, lajes, aliás, não muito comum em toda a região do planalto. Voltei para o hotel-fazenda do Complexo Fecomércio, SESC, de Santa Catarina, onde, agora, estava hospedado e fui para o meu quarto, numa encantadora cabana, à beira do lago. À tadinha, os barulhentos arruhos das curicacas, no alto de um esguio eucalipto, indicavam o fim do dia e o crepúsculo veio logo, com uma neblina, própria dos dias quentes de verão. Meu amigo fantasma me esperava dentro do quarto e disse que tinha muito a me contar. Era a respeito de minha avó.

ATÉ A PRÓXIMA
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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.