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22 de dezembro de 2016

TROVAS, TROVINHAS E TROVÕES – Versão II



Recebi as trovas selecionadas do importante, criativo e inédito concurso de trovas para serem etiquetadas nos ônibus de Balneário Camboriú, que teve como tema a natureza ,de um modo geral.
O projeto de autoria da escritora Eliana Jimenez é muito criativo e interessante, pois faz pensar sobre a necessidade de se cuidar do meio ambiente, hoje muito maltratado, por falta de educação e ignorância de todos aqueles que praticam atos que degrada nossas praias, mares, lagos e lagoas. Não é só o indivíduo despreparado que degrada a natureza, muitas vezes sem consciência do que faz, por pura ignorância. São,também empresas, de todos os tipos, que poluem o meio ambiente, em nome de uma ganância destruidora de paisagens belas e do solos produtores.
Contudo, no que diz respeito a concursos como este em questão, chamo a atenção, especificamente, para a falta de cuidado que teve a produção do projeto da escritora Eliana Gimenez, na sua fase de escolhas das produções literárias classificadas como vencedoras, pois nas 18 trovas que me chegaram às mãos, pude observar, a grosso modo – num olhar  rápido e despretensioso – 6 impropriedades, a maioria relacionada ao código linguístico da língua portuguesa mal usado.Uma pena! Vejamos:
      1) que, na caçada a riqueza” – Autor A.A.de Assis, Maringá-PR. Comentário: falta o sinal diacrítico, acento grave no –a- em “à riqueza”;
     2) morrendo de poluição” – Angélica Vilela dos Santos – Taubaté-SP. Comentário: O vocábulo “poluição”, na trova em questão não comporta o fenômeno fonético intravocabular chamado de sinérese, pois a última sílaba /ção/ é tônica, prejudicando a contagem métrica;
    3) Deixe à gerações futuras”. Comentário: Erro gravíssimo no emprego do acento grave na vogal –a-. Deveria ser grafado “a gerações”. Por se tratar de assunto de nível bem elementar, declino de maiores comentários;
      4) nem sempre os ventos socorrem / as asas desesperadas / dos passarinhos, .....” Comentário: Será que há ventos que socorrem passarinhos? A liberdade de imaginação poética atinge o ridículo...;
        5) Você que lê estes versos / nas ruas desta cidade / não deixe nas mãos de perversos / a biodiversidade” . Plácido Amaral – Caicó – RN. Comentário: O terceiro verso está, como se diz na gíria da crítica comezinha, de pé quebrado, isto é, possui 8 sílabas métricas. Vejamos:  /não1/ dei2/xe3/nas4/mãos5/de6/per7/ver8/sos;
       6) Ganancia” é terra ferida”. Reovaldo Paulichi – Atibaia – SP. Comentário: Ganância é palavra proparoxítona e como tal, será acentuada em sua sílaba tônica. Elementar, também, meu caro produtor!
      A melhor trova do inédito concurso, a nosso juízo é a de José Ouverner – Pindamonhangana – SP.
“Mãe natureza”! – Eis o nome
de quem em nome do amor,
gera o fruto e estanca a fome
do seu próprio predador! “

Comentário rápido: Trabalha com jogo de palavras e de ideias, empregando metáforas antitéticas.

Assim, essas trovas estarão constantemente sendo lidas pelos transeuntes e passageiros dos ônibus de Balneário Camboriú, podendo cada erro ser alvo da crítica feroz do leitor culto e atento aos fatos da estética e do uso culto da língua portuguesa. Um projeto tão interessante como este mereceria um controle de qualidade, para que, passando pela bela praia de Balneário Camboriú, não morresse nela...  

ATÉ A PRÓXIMA

28 de novembro de 2016

OCUPAÇÃO NIILISTA


A esquerda brasileira é esquizofrênica, porque toda ela: os políticos, os filiados ao partido dos trabalhadores, os filiados ao partido comunista brasileiro, a grande maioria de professores e intelectuais sem muito preparo, todos sofrem de psicoses endógenas, apresentando sintomas claros de dissociação entre suas ações e aquilo em que realmente acreditam e pensam. Teoricamente são um desastre, tanto quando explicitam teorias equivocadas, e também quando tentam praticar algo de real mérito e sempre apresentam alucinações ao analisar e discutir o quadro político atual de nossa enxovalhada república. Invertem tudo, em delírios persecutórios, querendo acreditar no que pensam ser, enquanto produto do delírio de serem, o que na realidade, ou no real, não são e nunca foram.
Existe um trabalho irreparável sobre política, incidindo sobre a ótica psicanalítica, na visão de Jacques Lacan, do Prof. Dr. Antônio Sérgio Lima Mendonça (*), que inicia mostrando a diferença entre Discurso do Capitalista e discurso capitalista. Aquele seria o quinto discurso de Lacan, após acrescentar o discurso de Fazer Desejar, o quarto, a partir dos três ofícios impossíveis de serem realizados, que Freud nomeou como os Ofícios de Governar, de Psicanalisar e de Educar.  Talvez, e com toda certeza, seria também implicado como impossível de ser realizado, tal como os quatro outros  O trabalho se fundamenta em um texto de Jacques-Alain Miller, genro do mestre da psicanálise pós-freudiana.
Então, vamos lá. O discurso capitalista trata de enriquecer, enchendo as burras de dinheiro e nunca desejar. Toda atividade humana visa à acumulação. A acumulação torna-se o mais-gozar do capitalismo. Aqui, Antônio Sérgio vai fundo na crítica aos universitários dos anos dourados, que hoje são os professores de plantão nas “ocupações” das nossas desprestigiadas e enfermas universidades. Diz ele: “Os que já leram O Capital (Kals Marx), que é um dos livros, no Brasil, mais citado e menos lido, no livro 10 do tomo I vão encontrar aquele texto que enfeitiçou a nossa universidade, nos anos 70, chamado! Fetichismo da mercadoria”. Aí apareceu um bando de “criativos de plantão”, atribuindo ao termo marxista fetichismo o status de termo freudiano, o que era e é um equívoco. Fetichismo quer dizer lá, em alemão, feitiço. Marx estava falando do feitiço da mercadoria, ou seja, da capacidade que a mercadoria teria no capitalismo de enfeitiçar as pessoas ao equivaler trabalho e valor. E essa capacidade da mercadoria de enfeitiçar se devia ao fato de a mercadoria ter um duplo e indissociável aspecto: ser um elemento econômico e ideológico ao mesmo tempo. Isso seria uma forma de, a juízo de Marx, dissimular o que ela chamava de mais-valia. E o que ele chama de mais-valia tem um lado algo meio “datado”, o que é um erro, hoje em dia (desculpem-me por chamar Marx de “equivocado”) e tem um lado estrutural que continua correto.”
Assim sendo, percebe-se que o capitalismo do século XIX não é igual ao capitalismo de nosso século. Era outro. O capitalismo atual é bem diferente. Os serviços são tecnologizados e os salários não são, necessariamente, pagos por horas e sim por outras muitas formas de recebimento.
 Mais tarde Rosa Luxemburgo, uma força emergente e contraditória aos princípios marxistas, pois espartaquista, acrescentaria, conceitualmente, algo importante no capital, outra forma de entender a acumulação. Para Marx, a acumulação capitalista é o produto da mais-valia, porque a mais-valia surge do não pagamento do valor do trabalho no preço da mercadoria. Eis o básico e primeiro princípio da acumulação. Já para Rosa Luxemburgo,  não é a acumulação que vai gerar o capitalismo. É o próprio capitalismo que  que vai gerar a acumulação, no mundo que se internacionaliza. Um modo de expansão do capitalismo, como pensou, muito perto do conceito atual, nesse mundo globalizado de hoje, para sermos bem precisos e redundantes.
Será que percebemos que não há sistemas políticos no mundo atual que não tenham se submetido ao princípio da acumulação capitalista? Tanto no sentido econômico como nos mais amplos sentidos. O Discurso do Capitalista será um modo de pensar e não um modo de produção. Isso pode ser verificado porque os lacanianos sabem que é o discurso que rege o mundo e não, como pensavam os marxistas, que o capital que fala fosse uma superestrutura da realidade econômica, como argumente e afirma Antônio Sérgio. No Discurso do Capitalista não há lugar para os perdedores, aqueles que não foram bem sucedidos na lógica da acumulação.
E o autor desse precioso trabalho, LACAN, A PSICANÁLISE E A POLÍTICA, termina, para deixar bem claro -  acrescentamos nós -  a essa esquedopata pseudo-intelectual brasileira, das ocupações universitárias sem sentido de honra, vergonha e impudência “que no capitalismo hodierno, a moral só surge para condenar o malsucedido, e o Estado de Direito e a democracia para legislar e/ou legitimar a sua condenação; o que nos candidata ao sentido que, alguns pensadores, inspirados retroativamente, como Giorgio Agamben, nos conhecimentos filológico-linguísticos de Émile Benveniste, chamaram de Homo Sacer, ou seja, a exclusão como reversão da santidade, como forma de evitação do serviçal, na qual o sacro perde a intocabilidade e passa a ser passível de ser morto, malgrado a ordem jurídica vigente: trata-se de algo próximo do “linchamento moral” e/ou do “assassinato cultural”. Portanto, tão moderno quanto agora, assim pode-se terminar esse texto-resenha.
·         

MENDONÇA, Antônio Sérgio Lima. CAPÍTULO 5. Lacan, a psicanálise e a política, IN Lacan com Freud: A cultura e o mal-estar civilizatório. Companhia da Freud, Rio de Janeiro, 2010, págs. 75-92.

ATÉ A PRÓXIMA



















23 de novembro de 2016

MÁQUINAS DE ESCREVER




   Escrever por escrever aos borbotões pode ser terapia, afinal é uma prática salutar que distrai e pode produzir muita coisa boa. Ultimamente fiquei encantado e um pouco intrigado com a produção em série de obras literárias produzidas por um só escritor e lançadas ao mercado, em Feiras de Livros regionais, inclusive. Muitas concorreram a premiações literárias e obtiveram belos e significativos troféus, mas isso não é comum. Portanto, debrucei-me sobre este acontecimento e fui reler meus preferidos autores que trataram da Teoria Literária. Roland Barthes dissera, há mais de quarenta anos, que o mundo assistia aos esforços que os artistas, principalmente os escritores, estavam fazendo para destruir a arte. Mas como os textos literários são constituídos de linguagem plurissignificativa e a destruição da linguagem não pode ser verdadeiramente executada, o autor de O prazer do texto retifica, afirmando que suas palavras foram dirigidas mais às artes plásticas do que a literatura, se bem que os problemas estéticos aí, na literatura, são inteiramente diferentes do que na pintura e na escultura, mas de certa forma se imbricam.     
Deve-se escrever compulsivamente? Bem, escrever é anotar para que as palavras permaneçam fixadas ao papel (...scripta manent). Isso pode ser conseguido com o simples exercício da cópia, para se aprimorar a caligrafia e se fixar nas memórias visual e táctil as grafias das palavras. Mas o ato de escrever pode também estar ligado a um tipo especial de prazer. Tal como existe o prazer em ler, aquele que traz o leitor para os escritos do outro, para os textos literários que vão proporcionar ao leitor euforia e conforto, além de colocá-lo em sintonia com o mundo ou ambiente circundante, inserindo-o na cultura, existe, também, o prazer em criar um texto uma escritura. É o prazer compulsivo. Euforia em disseminar a cultura internalizada que irá surgindo, moldando as formas linguísticas de tal modo que o produto se torne expressivamente agradável. Mas agradável a quem? Se essa forma de agrado não for destinada ao receptor, no caso específico da escritura literária (nas outras artes ocorre o mesmo), uma vez que a estética está centrada na ótica do receptor, não surgirá desse esforço físico nenhuma consequência.         
A escrita compulsiva parece que pode atingir a fruição, o desfrute, o gozo, o êxtase. Os textos de fruição autênticos e raros não surgem da compulsão em escrever. Surgem de uma internalizada leitura literária, adquirida, não inata, mas elaborada e cultivada, aprendida, por conseguinte. O escritor compulsivo sem experiências de intertextualidades, relação com outros diversos textos, e sem liames estabelecidos com acontecimentos universais, não produzirá uma escritura para o outro. Produzirá uma escritura para si, supostamente literária. A escritura deverá se destinar a um letramento literário e não a uma leitura literária, como a que, costumeiramente, se faz nas escolas, desenvolvendo-se conteúdos didático-programáticos. Esse letramento deverá estar envolvido pelo conserto e desconserto do mundo, além do prazer e fruição, mas sobretudo, pela paixão e enfetichamento do objeto-tema retratado, escolhido para alumbrar o leitor.  


LEITURAS  SUGERIDAS 

1- BARTHES, Roland. Le plaisir du texte, Paris, Éditions Seuil, 1973. 2- COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo, Contexto, 2007. 3- ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história literária. São Paulo, Ática, 1989.

ATÉ A PRÓXIMA



22 de novembro de 2016

VOU CONTAR UMA HISTÓRIA

Primeira Parte: INTRODUÇÃO                     

Era uma vez uma instituição “literária” que se chamava União dos Trovadores do Brasil, UBT. Atualmente, tem como presidente nacional uma Sra. chamada Domitila Borges Beltrame, que não sabe o que significa o vocábulo exacerbação, tanto é assim que escreve, equivocadamente, “exarcebação”. Não acreditam? Está lá, por duas vezes grafado, na página 02 do Boletim Nacional da União Brasileira de Trovadores, número 578, outubro de 2016. Esta senhora assina o artigo PALAVRAS DA PRESIDÊNCIA.  Ora bolas, uma entidade cultural que cultiva e preserva a memória literária da TROVA, não pode se expor de maneira ridícula, estropiando a língua portuguesa de Camões, Pessoa, Bilac e do próprio patrono da UBT, o poeta-trovador, Luís Otávio. E mais. Essa atual Diretora, D. Domitila Borges Beltrame, não tem condições culturais nem administrativas para continuar à frende de uma instituição tão simpática e de mais de cinquenta anos, ou perto disso. É estranho o enredo dessa história? Então, leiam com atenção a correspondência que essa senhora em epígrafe recebeu e nem sequer se dispôs a responder, talvez por não saber ler interpretativamente os sintagmas, as frases e os parágrafos. Bem, quem não sabe das coisas não consegue, mesmo...

Segunda Parte: O IRRESPONDÍVEL

A atual presidente da UBT nacional recebeu uma correspondência assinada, no dia 25 de outubro de 2016, na qual é esclarecido todo um tremendo imbróglio, surgido por sua total incapacidade de entender e interpretar textos. E olhem que o texto que os senhores vão ler (o mesmo que ela recebeu) é simples, sem nenhum artifício estilístico e com um vocabulário bem redundante, fácil, portanto, de ser entendido.

Vamos aos fatos.

Blumenau, 25 de outubro de 2016. Prezada Sra. Domitilla Beltrame.

Li no Boletim Nacional da União Brasileira de Trovadores, outubro 2016, nº 579, página 02, no texto PALAVRAS DA PRESIDÊNCIA, seus comentários sobre o evento que coordenei, o I Concurso Nacional de Trovas de Blumenau.
Causou-me enorme estranheza sua declaração, a respeito da minha não distinção entre Trovadores Veteranos e Novos Trovadores no Concurso que coordenei. Sei, perfeitamente, que no Edital havia referências a esse tipo de distinção. Contudo, expliquei a V.S. os motivos pelos quais não considerei esses dois tipos de trovadores. Sei que a senhora tem todo o direito em querer que as coisas corram dentro das normas previstas nos seus regulamentos, mas chegar ao ponto de ver exacerbação em minha humilde e sincera argumentação, por não seguir sua orientação, é uma atitude que não posso aceitar. Não agravei nada. Não exagerei nada, porque nada havia para ser exagerado. Gostaria que refletisse bem a respeito disso tudo. E para que não haja dúvidas, transcrevo o texto do e-mail em que lhe enviei os resultados do I Concurso de Trovas de Blumenau, com a referida justificativa e que não foi respondido, surgindo lastimáveis comentários, em seu Boletim (Nº579, outubro/2016), aberto aos seus leitores, o que caracteriza ação ignominiosa, portanto. Ei-lo:

“Prezada senhora.
Englobei todos os concorrentes em uma só categoria, pois foram muitas trovas e não poderia sobrecarregar os julgadores com subdivisões, uma vez que são pessoas muito ocupadas, pois mesmo aposentadas, atuam em diversos setores da vida cultural de sua cidade, dando assessoria linguística e literária a importantes agentes culturais do Rio de Janeiro. Creio, contudo, que o critério adotado só prestigiou a vossa simpática e atuante União Brasileira de Trovadores. Já enviei os Certificados para os vencedores e os Diplomas para os componentes da Banca Julgadora.
 Prof. Luiz Cesar Saraiva Feijó”

Assim sendo, pergunto onde houve exacerbação e quais motivos (talvez sejam sub-reptícios) existem para tamanha indignação, a ponto de ter tentado anular os resultados? Gostaria de frisar que aquele Concurso foi um dos que mais transparência apresentou em toda a história dos julgamentos de Concursos da UBT, pois mostrou a todos a qualificadíssima banca julgadora, que declinou seus critérios, a forma de avaliação e as considerações gerais adotadas na seleção dos poemas vencedores. Da forma como organizei o julgamento e a apuração, não seria possível nenhuma fraude, nenhuma possibilidade de macular o resultado e creio, mesmo, que não houve nada parecido com esse critério de avaliação e apuração na UBT. Em vez de a senhora agradecer, vem dizer que houve exacerbação, agravamento, aumento exagerado de impertinências em minha atitude?  Recebi, Senhora Presidente, elogios de inúmeros concorrentes a respeito de como procedi na coordenação desse Concurso, todos aplaudindo a lisura e a maneira como foram julgados seus poemas, suas composições. Em tempo, pergunto, ainda, como os tais “novos trovadores” e “os trovadores veteranos” poderiam ter sido prejudicados com tal nivelamento? Sei que o Edital previa um tipo diferente de premiação, mas expliquei em meu e-mail (a cima reproduzido) o porquê de ter havido tratamento diferente. Não foi suficiente ou não houve boa vontade? Talvez não tenha havido compreensão...

Sra. Presidente, fique com suas convicções, pois são legítimas, mas fique também sabendo que não vejo nenhuma exacerbação nas palavras e nas atitudes que tomei ao explicar-lhe os motivos para não levar em consideração o quesito Novo Trovador e Trovador Veterano. Creio que isso é impossível de ser justificado.

Finalizando, Sra. Presidente, “recém-chegado”, pela nova ortografia em vigor, possui hífen, e a expressão “ao par” está mal empregada, pois deveria grafá-la “a par”. E, ainda, no Item 9 das suas orientações, a senhora, sim, exacerbou, pois agravou substancialmente a redação de seu texto, porque não tomou cuidado no uso do pronome reflexivo “SE”, cujo emprego, aí, exige o verbo no plural (“que se façam”), errando mais uma vez e  isso, sim, merece séria reprovação. Ass. Luiz Cesar Saraiva Feijó.

F I M


ATÉ BREVE 

16 de outubro de 2016

BOB DYLAN – NOBEL DE LITERATURA - 2016



O PRÊMIO NOBEL de Literatura deste ano de 2016 dado ao músico, cantor e poeta norte-americano Bob Dylan, me fez pensar nas pesquisas e descobertas fonéticas de Kenneth Burke, valorizando o verso moderno e, consequentemente, dando maior vida às formas poéticas, envolvidas em sugestiva musicalidade, justificando, assim, a fala do porta-voz do Comitê de Premiação da Academia Sueca:  “o prêmio vai para Bob Dylan, por ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição norte-americana da canção”.

A obra de Kenneth Burke vai tratar também da musicalidade no verso. Em seu livro The Philosophy of Literary Form, A. Vintage Book. N. York, First Published, 1941, nas páginas 295 e seguintes, no  capítulo On Musicality in Verse, o autor se servindo de material dado no curso de verão, na Universidade de Chicago, em 1938, trata do consonantismo fonético nos versos, mostrando a árvore cognata dos sons consonantais na língua inglesa, o que pode ser aplicado em quaisquer outros idiomas. A adaptação, portanto, à fonética portuguesa é tranquilamente possível e praticável. Assim, há mais de setenta anos, esses fenômenos vêm sendo estudados pela micro-estilística fônica, o que, de certo modo, também acontece, a partir do modernismo, quando novos ritmos surgem na poesia de língua portuguesa. Oswandino Marques, em 1954 já a estes fenômenos se referia em seu estudo, Matrizes Estruturais do Verso Moderno, in Modernismo, Estudos Críticos, Revista Branca, Rio de Janeiro. Oswaldino vai usar uma nomenclatura, em parte, tomada de empréstimo ao linguista e filósofo Kenneth Burke, na obra acima citada. Tudo isso se estabelece porque a base das células sonoras e a própria sonoridade dos sintagmas frasais nos versos modernos estão na consonância e não no vocalismo. Nos versos premiados do “poeta-trovador” não foram mencionados os efeitos consonânticos estudados por Burke, mas, certamente, em seus poemas e em suas canções lá estão, certamente, presentes os grupos de força, as aliterações, as coliterações, as amplificações, os quiasmas, as amplificações e toda uma série enorme de realizações fonéticas estudadas por muitos críticos da micro-análise estilística. Em 1967, escrevi para a Revista da Editora Tempo Brasileiro, em homenagem a Serafim da Silva Neto, um artigo que reverenciava esses estudos fonéticos e estabelecia definitivamente a questão de autoria dessa nova metodologia de abordagem analítica, numa época em que muito se falava sobre inovações, mas muito poucas eram as citações meritórias. O crítico Oswaldino Marques, introdutor no Brasil da técnica de análise da textura sonora do verso, no ano seguinte, em 1968, ao editar Ensaios Escolhidos, pela Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, no Prefácio de sua importante obra, onde republicou o trabalho sobre o consonantismo no verso, intitulado Matrizes Estruturais do Versos Moderno, na página XVIII, comentando a insensibilidade de alguns intelectuais que não registram seu pioneirismo, nos cita, em nota de pé de página, com rasgos de profundo agradecimento pelas nossas colocações. Transcrevo as palavras de Oswaldino Marques: “Registro aqui com satisfação o trabalho de Luiz Cesar Saraiva feijó, “Células Sonoras no Verso Moderno” baseado no estudo objeto das considerações acima. Cf. Estudos Filológicos (Homenagem a Serafim da Silva Neto), Rio de Janeiro, Edições Tempo Brasileiro Ltda., 1967”.

Não afirmamos que a excelência dos versos e das canções de Bob Dylan provém somente da textura sonora de suas “frases-texto-canção”, mas essa textura sonora dá sustentáculo e corpo fonético à sua estética poético-musical. Outros inúmeros fatores são, também, responsáveis pela criação de uma nova expressão poética, dentro da canção norte-americana. Na balada Lay, Lady, Lay, a aliteração do título dá o romântico compasso que repetido com o segundo segmento do verso, onde uma segunda aliteração de fonemas bilabiais, forma uma coliteração, que se repete no estribilho, até o fim da canção. As rimas são sonantes e semanticamente calmas como a noite: night is still. Marcamos os fonemas aliterados e as rimas sonantes neste segmento da canção.


Lay, Lady, Lay



Lay, lady, lay, lay across my big brass bed
Lay, lady, lay, lay across my big brass bed
……………………………………………………………….
……………………………………………………………….
Stay, lady, stay, stay with your man awhile
Why wait any longer for the world to begin
You can have your cake and eat it too
………………………………………………………………..
………………………………………………………………..
Stay, lady, stay, stay while the night is still ahead
I long to see you in the morning light
I long to reach for you in the night.




ATÉ A PRÓXIMA





12 de outubro de 2016

A trova é boa porque foi bem escolhida ou foi bem escolhida porque é boa?




           


Acabei de proporcionar aos amantes da breve poesia, a trova, um concurso nacional, sob a égide de uma tradicional organização de preservação do encanto que a trova encerra, a UBT. O resultado foi diferente dos tradicionais concursos, pois houve sete trovas em primeiro lugar. Na realidade, seriam vinte e duas colocadas em primeiro lugar, mas não querendo escandalizar, organizei o resultado final, entre estas vinte e duas selecionadas, de maneira a colocar sete em primeiro lugar, efetivamente, oito como Menções Honrosas e sete como Menções Especiais. Quando da abertura dos envelopes para que se soubessem os nomes dos poetas vencedores, muitos  que participavam do evento, estranharam, achando que as colocações não correspondiam às suas expectativas, aos seus julgamentos, instantâneos, imediatistas, impressionistas e muito pessoal. Será que estas trovas são boas porque foram bem escolhidas ou foram bem escolhidas porque são boas?  Tal situação lembrou-me um artigo que li há muito tempo, na verdade, um microensaio crítico muito bem elaborado, não só pela escritura, como pelo desenvolvimento conteudístico. Chamava-se “Tostines Invertido”, de Cristiane Costa. A autora, em síntese, vê a crítica literária torcendo o nariz para as obras que mais vendem no comércio editorial, isto é: os best-sellers.  O efeito “Tostines” está presente aí. Vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? E repensa o papel do crítico literário, em função do mercado editorial. Já Flora Sussekind, no suplemento literário do Jornal O Globo, sugere que o crítico literário se afaste cada vez mais da sua função de guia de consumo... E Cristiane Costa, que desencadeou minhas reminiscências literárias e de comunicação de massa, termina na oposição best-seller / worst-seller, afirmando que “não é à toa que a lista de worst-sellers já engoliu a poesia e o conto e está agora ameaçando o romance nacional.” O que queremos dizer com a chamada de um texto desse tipo? Vejo que é fácil e pertinente fazermos uma paráfrase com o que acontece nos julgamentos de concursos literários de poesia e prosa, principalmente executados por pequenos grupos ou instituições que não dispõem de pessoal preparado para a composição de uma banca julgadora. Pessoal qualificado não é comum nessas situações, mas em concursos de notoriedade nacional devem ser chamados, sim, pois críticos renomados ou pessoas com qualificação e formação em Teoria Literária, pelo menos, são indispensáveis para esse mister. Por pensar desta maneira, escolhi a dedo minha banca julgadora, formada por doutores em Teoria da Literatura e Literatura Brasileira. Assim, quando o júri atribui um veredito, baseado num critério consubstanciado em argumentos relevantes e intrínsecos à escritura e à escrituração, este, de certa forma, também, observa a criação literária como algo que não conhece limites, regras, nem esquemas, resultando daí suas escolhas. Escolhas estas com pertinências estéticas e nunca submetidas aos resíduos farofentos do “slogan” dos biscoitos Tostines, invertido ou não.   

ATÉ A PRÓXIMA

2 de agosto de 2016

TROVAS, TROVINHAS E TROVÕES



Hoje em dia, é enorme a produção de trovas de todos os tipos, sejam filosóficas, líricas ou humorísticas. Parece que essa estrondosa produção se deve ao incentivo que a UBT (União  Brasileira de Trovadores) tem dado aos amantes desse gênero literário, realizando, em quase todos os Estados da Federação, com frequência, concursos, cujos temas sugeridos são bastante variados. A entidade que reúne os mais significativos trovadores brasileiros realiza suas festas, seus Jogos Florais, em vários municípios, por esse gentil Brasil varonil, afora... A entidade divulga seus concursos e também determinadas regras a serem seguidas, enquadrando o trovador numa espécie de bitola, para que fique mais fácil o julgamento e não haja muita discussão a respeito das inúmeras possíveis formatações das quatro linhas da trova, poema de forma fixa, tão antigo quanto o código linguístico da língua portuguesa que a estrutura. Por outro lado, os trovadores acumulam trovas, trovinhas e trovões, guardando as que sobraram  e não foram para os concursos regionais, para irem direto engrossar os rascunhos de seus próximos livros. Assim, muitos poetas compõem, por encomenda, e a renovação custa muito a surgir, estagnando a ebulição fervescente de textos portadores de novas estéticas. Além disso, é bom lembrar que não surgem a toda hora obras primas e muito menos um João Cabral de Melo Neto, nem uma Maria Clara Machado a encomendar poemas para festinha de Natal... Entenderam, né? Dificilmente, se lê bons textos, crônicas inteligentes, contos empolgantes, poemas envolventes, belas trovas ou até mesmo escritos como estes de Sérgio Antunes, poeta e escritor que dizia que um trovador e repentista de Pindamonhangaba, ou talvez não fosse de lá, mas o fato é que ele vivia fazendo versos e que falava do céu de anil, das moças garbosas, do sino da igreja, de tudo, enfim. Um dia, estava ele no bar com uns amigos, entrou a Rosa e ele explicava que a Rosa era a mulher do Lino, o farmacêutico da cidade. Ninguém precisava descrevê-la: era um monumento natural, uma gostosona, com o perdão da palavra. Aí os amigos provocaram. "Não vai fazer uns versinhos pra Rosa?" E ele teria feito:


"Com seu corpo de violino

e seus pudores precários,

Rosa, a mulher do Lino

virou a extra de vários".



Esse tipo de humor não se vê com facilidade. É raro, mas é uma delícia! Esse Sérgio Antunes é muito bom: Que tal esse quarteto em decassílabos?


Nervosa? Perguntei o que é que houve

e ela pediu que eu tocasse nela

e eu, obediente, toquei nela,

a quinta sinfonia de Beethoven.



Mas, para quem gosta de trova reflexiva (será que alguém se trovará algum dia? Entenderam, também, né?), lá vai uma, citada, ainda, por Sérgio Antunes: 



 "Trova, conto de um canto,

poça d'água sobre o chão,

tão pequenina e entretanto,

reflete toda a amplidão".



E continua esse mesmo autor com seu repertório de “causos” poéticos, envolvendo trovas de preciosíssimas construções.  Diz ele: "Na Bahia houve um concurso para fazedores de trovas. Mas era preciso rimar com "lâmpada". A dura regra que afastou os concorrentes teve um ganhador:


 "Dizem que certo vigário

encomendou uma lâmpada

para homenagear a estampa da

Virgem Santa do Rosário".



Saída mais do que sensacional. O trovador usou a sílaba átona da combinação da preposição  - DE - com o artigo feminino  - A -  como parte integral de um vocábulo fonético proparoxítono, formado por uma palavra paroxítona ESTAMPA, que cedeu sua sílaba tônica TAM para formar o vocábulo fonético proparoxítono “ESTAMPA DA”.  É ou não é criatividade poética? Um caso raríssimo de “anacruse invertida”.

Seguem, agora, uma série de trovas muito bem construídas, todas com “raricidades” na construção, quer na semântica, no estilo ou no ineditismo da construção. 


1)            De PAULO LEMINSKI:


Todo bairro tem um louco

que o bairro trata bem.

Só está faltando um pouco

pra eu ser tratado também.



2)            De ALBA CHRISTINA CAMPOS NETTO:



Brigas de amor têm segredos,

e eu juro que me comovo

ouvindo os nós dos teus dedos

batendo à porta de novo...






3)            De AMALIA MAX:



Relógio, fique parado!

Não deixe o tempo passar...

Eu quero ser enganado

quando a velhice chegar!



4)            De CASTRO ALVES:



Na hora em que a terra dorme

enrolada em frios véus,

eu ouço uma reza enorme

enchendo o abismo dos céus...



5)            De CECÍLIA MEIRELLES:



Sou mais alta que esse morro,

mais vasta que aquele mar.

Há muito que me percorro

sem me poder encontrar.



6)            De DENISE CATALDI:



Deu muita sorte a vizinha

pulando o arame farpado,

pois só rasgou a calcinha:

o principal foi poupado!



7)            De ELTON CARVALHO:



Vem, palhaço, sem tardança,

com teus trejeitos, teus chistes...

e acorda a alegre criança

que dorme nos homens tristes!



8)            De FERNANDO PESSOA:



O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.



9)            De GUILHERME DE ALMEIDA:



 Tudo muda, tudo passa,

neste mundo de ilusão:

vai para o céu a fumaça,

fica na terra o carvão.



10)         De J.G.DE ARAÚJO JORGE:



Rosas tolas, tão vaidosas,

que em belas hastes vicejam...

Vem, amor, olha estas rosas,

quero que as rosas te vejam!



11)         De ARI SANTOS DE CAMPOS:



Num deslize a honradez

lá se foi, numa soltura.

Depois da primeira vez,

nenhuma cerca é segura.



12)         De NEWTON VIEIRA:



Ficou mais lento o meu passo?

Caminharei, mesmo assim!

Só temeria o cansaço

se me cansasse de mim...





13)         De RAUL DE LEONI:



Duas almas deves ter...

é um conselho dos mais sábios:

uma no fundo do ser,

outra boiando nos lábios.



    

E fechando esta apresentação, fiquemos com os poemas de MARIO QUINTANA: 

- I -

  (Quadra em decassílabos)


Se as coisas são inatingíveis... ora!

Não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos se não fora

A mágica presença das estrelas!



- II -

POEMINHO DO CONTRA


Todos estes que aí estão

Atravancando o meu caminho,

Eles passarão.

Eu passarinho!





ATÉ A PRÓXIMA
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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.