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26 de agosto de 2010

O QUASE PICARESCO PEDRINHO MENEZ

Como no ditado popular que diz que quem conta um conto aumenta um ponto, tentarei, sem nenhum ranço de crítica impressionista, acrescentar o meu ponto, interpretando o texto de Flávio José Cardozo, PEDRINHO VAI VOLTAR RICO, publicado em Zélia e outros, segundo livro de contos desse produtivo autor catarinense.
A história de vida do personagem Pedrinho é um entre-lugar: a pretensão de ser e o projeto de ter, envolvido pelo trauma da partida e a fugaz alegria do retorno, costurado por um discurso moralista, sem falsa moralidade.
O conto retrata uma cena da vida interiorana, de cidade pequena de municípios de poucas atividades econômicas, em épocas mais distantes dos dias de hoje. Trata-se de uma fábula moderna sobre o filho pródigo, caipira, mais o filho do que a fábula e tudo com um final não muito feliz, mas reflexivo e poético, por transfigurar a realidade e fundar novos significados.
A narrativa propõe um desfecho mágico, mostrando-nos sinais ou presságios de desilusões, envolvida a narrativa por discursos diretos, indiretos e indiretos-livres, servindo-se o autor de correlações de idéias, colocando a realidade de Pedrinho fora de seu ambiente, de sua casa, dirigindo-o para a grande cidade (Porto Alegre) ou fazendo-o se deslocar para outros sítios menores.
Através dessas correlações de idéias, como nas participações dos personagens envolvidos na urdidura da ação, a trama vai se desenrolando, surgindo verdadeiros mosaicos narrativos, que marcam e descrevem os acontecimentos como peças disformes. Essas peças em mosaico, lidas, não cursivamente, mas salteadas, montam a estória preparada pelo autor, forjando o comportamento respeitável de Pedrinho. Então, a imagem do filho pródigo que se autoexilou vai cativando o leitor, numa escritura simples com poucos recursos estilísticos, mas deixando reservado o grande momento da transfiguração para o final imprevisto, como transgressor de uma realidade, que se presentifica como fantasiosa, consubstanciando a neurose, pois a fantasia foi passada como real. Eis o valor intrínseco, portanto literário, desse conto de Flávio José Cardoso, cujo liame poético com Frederico Garcia Lorca, iniciando o conto, introduz a esperança, talvez a última virtude de nosso quase picaresco personagem Pedrinho.


ATÉ A PRÓXIMA

24 de agosto de 2010

VALE A PENA VER DE NOVO


Parodiando a Rede Globo de Televisão, orgulhosamente apresentamos, nessa época de reflexão eleitoral, a atualização do antigo texto:


UMA OPERAÇÃO FURACÃO QUE SE TRANSFORMOU EM VENTINHO TROPICAL

O Brasil atual é ainda a família portuguesa que aqui se multiplicou, após a chegada de D. João VI. A coisa foi dividida assim: um grupo com todas as regalias e poder tomava conta de vários grupos com menos regalias e com poucos poderes. Essa classe, ou grupo, tomava conta dos escravos e podia fazer qualquer coisa com os pobres infelizes. Os índios, bem, esses só serviam para indicar o caminho da roça e para morrer, desde que bem batizados pelos padres que fingiam estar do lado dos mais fracos, mas jantavam nos palácios e comiam as migalhas do banquete, dando à santa madre igreja as pingues fatias do bolo. Depois as duas primeiras classes ou grupos sociais disseram que todo mundo seria igual perante a Lei.
Que negócio é esse? Quem rouba ou mata tem que ir é para a cadeia! Seja pobre, ou seja, rico. Seja trabalhador ou desempregado. Seja funcionário público ou jogador de futebol (parece que um já foi, não é Bruno?). Seja delegado, juiz ou desembargador.
Mas vejam. Essa indignação é cíclica, isto é, de vez em quando mexe com o brio da sociedade e com os cidadãos de bem. Observem esses dois poemas de Oswald de Andrade, de 1922. Antes de apresentá-los, quero dizer que o discurso do poeta é o primeiro que surge como forma de indignação e protesto, pois ele é transgressor, isto é, vai contra a ordem estabelecida da língua e contra as patifarias dos poderosos. Assim, o discurso do poeta denuncia é denunciador. Mas vamos aos dois poemas.

(1º) RELICÁRIO

“No baile da Corte
Foi o Conde d’Eu quem disse
Pra Dona Benvinda
Que farinha de Suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê, bebê, pitá e caí”.

(2º) SENHOR FEUDAL

“Se Pedro Segundo
Vier aqui
Com história
Eu boto ele na cadeia”.


Esses dois poemas de nosso maior poeta modernista, Oswald de Andrade, são discursos de humor que estabelecem a relação selva-escola, que por se darem bem, forjaram nossa cultura, logo, será relíquia e o que a detém será o relicário. Nesse primeiro poema, o real é mostrado como fantasia, dando-lhe um banho de imaginação ou de ficção, pois a nossa relíquia é um entre-lugar: o “comê, bebê, pitá e caí”.

Já no segundo poema, Senhor Feudal, o poder é criticado pelo próprio poder, pois o símbolo do absolutismo, D. Pedro II, dono do poder, surpreendentemente é punido pelo mesmo poder, representado pela cadeia, tudo de maneira imprevista.


O Brasil sempre foi isso, minha gente! Como é que esses desembargadores, juizes, delegados, advogados, senadores, deputados e outros corruptos privilegiados podem ficar presos, se são eles os donos da chave da cadeia?
Somos ou não somos o desdobramento daquela família portuguesa de 1808?

Ainda bem que chegou essa tal Lei da Ficha Limpa. Vamos ver se pega!


ATÉ A PRÓXIMA

16 de agosto de 2010

BOLOS, BOLINHOS, DOCES E DOCINHOS


Eu sempre escrevo, alguma coisa sobre esse tema. A falta de capricho na culinária que as cidades turísticas brasileiras oferecem a nós todos, turistas ou não, chega a ser irritante, deixando-me realmente indignado. Mas esse desleixo com a arte de se comer bem não é só privilégio de sítios do interior, não! Isso acontece no Rio de Janeiro e em São Paulo, também. Mas nas grandes cidades, a oferta das coisas boas supera as medíocres oferendas de bolos, bolinhos, doces e docinhos, que são típicos das cidadezinhas interioranas. E o que dizer dos pasteis, quindins, salgadinhos, balas, bombons, canudinhos, doces em calda, tudo de péssima qualidade, vendido em tabuleiros ou em vitrines de padarias ou em quiosques? Quando alguns desses bolinhos são de agradável gosto, apresentam-se grosseiros, mal acabados e de aspecto horrível. Se você for a qualquer país europeu, em qualquer festinha popular de subúrbio, em qualquer padaria de bairro vai encontrar doces e salgados de excelente qualidade, um regalo à vista e ao nosso faminto instinto devorador de coisinhas apetitosas... Formatos agradáveis, petiscos que dão água na boca! Tudo sem estar besuntado em manteiga de qualidade duvidosa e glacê estupidamente açucarado. Nada é fritado em óleo vagabundo. Possuem tamanho recomendado pela etiqueta gastronômica, o que vale dizer que se apresentam com um visual fino, e sua forma agrada tanto aos olhos quanto ao paladar. Mas aqui no Brasil ninguém capricha nisso. Nas confeitarias do interior, os empregados dizem que os patrões são alemães, italianos, húngaros, japoneses, espanhóis ou asiáticos e sabem fazer coisa boa. Mas eu desconfio de todos eles que trabalham assim equivocadamente, pois viajo muito e já provei coisas terríveis. São todos confeiteiros, cozinheiros, auxiliares e pseudochefs de cozinha carroceiros, isso sim! Até nas capitais encontram-se esses verdadeiros mata-fomes. Se você for a Curitiba e perguntar onde se come uma típica comida italiana, o homem humilde da rua lhe indicará o bairro de Santa Felicidade. Ledo engano! Lá, a maioria dos estabelecimentos de comida típica italiana é representante da culinária brega. Eu disse BREGA, não confundir com BELGA, que é outra coisa muito diferente, e lembra chocolates maravilhosos!!! Em Santa Felicidade existe um tipo de comida italiana fajuta e carroceira, mal feita, herança dos colonos incultos que para aqui vieram e trouxeram receitas horrorosas e se dizem representantes da típica comida romana. Comida italiana com requinte você vai encontrar no bairro do Batel. Nas cidades-balneário de Santa Catarina é a mesma coisa. Na festa da Marejada em Itajaí, por exemplo, vende-se o mais vagabundo quitute de peixe, fritado em óleo ordinário, cuja fumaça e odor rivalizam com o ar azedo da cozinha das páginas do romance O Cortiço de Aluisio Azevedo, surgindo atrás dos balcões, nos dias de festa, inúmeros Joões Romões e Bertolezas, envolvendo o visitante num ambiente selvagem de ganância capitalista, enganando a todos, inclusive descaracterizando os pratos típicos dessa bonita região praiana. Em quase todas as cidades por estas bandas, nos dias de festas, nos hotéis e nas confeitarias, que servem o tal café colonial, o engodo é o mesmo, só que o disfarce vem travestido de nomes alemães, com tortas soladas, suflês sem gosto, pastas insossas, sopas e canjas intragáveis. Isso sem falar do chocolate, que muitas das vezes é o nosso conhecidíssimo Tody de antigamente, um achocolatado em pó, diluído em leite quente. Assim, o turista fica muito triste, e ele, que não é bobo, vai gastar seu rico dinheirinho em outras plagas, onde os sabores das comidinhas típicas servem para agradar, tanto o estômago quanto o coração, indicando outras plagas a todos os seus amigos e parentes, pois é muito bom a gente se refestelar com os genuínos sabores de uma culinária sadia, honesta e saborosa.

ATÉ A PRÓXIMA

6 de agosto de 2010

OS PÉS DE LAURA


Maurício Murad lançará no próximo dia 21 de agosto, sábado, o romance OS PÉS DE LAURA.
O evento acontecerá na Livraria do Museu da República, a partir das 16 horas, no Palácio do Catete, Rua do Catete, 153. Há estacionamento e a Estação do Metrô-Catete fica em frente.
Os romances de Maurício Murad se caracterizam por uma linguagem escorreita que agrada por trazer um humor velado e sua sensibilidade capta do cotidiano aquilo que não percebemos imediatamente no ambiente circundante. Seus textos em prosa são carregados de lirismo poético, inseridos entre o clássico e o moderno, sem serem modernosos, com sentidas reflexões sobre a vida, que deseja viver plenamente, sempre a nos surpreender.
Vale a pena conferir mais esse romance de Maurício Murad, um apaixonado pelas letras, pelos esportes e pelas artes em geral.
Mais uma obra sua lançada pela Editora 7 Letras.
ATÉ A PRÓXIMA
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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.