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29 de julho de 2010

O PORTUGUÊS VULGAR


Durante esses anos que estou no sul do Brasil, cinco em Curitiba, Paraná, e seis em Balneário Camboriú, Santa Catarina, venho observando que nesses sítios a Língua Portuguesa está se transformando em “português vulgar”, como aconteceu com o latim na Península Ibérica, após o desmoronamento do Império Romano. Aqui em Santa Catarina o falar regional até parece um caçanje do Português. Há muitos e muitos anos atrás, na Península Ibérica ocupada pelos romanos, as instituições, marcas e símbolos de uma sociedade, entre elas a Escola, se esfacelaram, com a invasão visigótica, deixando o “romance”, entregue à sua própria deriva. Desse "romance", o latim vulgar modificado, falado então, surgiram, aos poucos, as diversas línguas neolatinas, nos diferentes espaços por onde vicejou a cultura do povo romano, colonizador da ibérica península. Como uma repetição histórica, a língua portuguesa, grosso modo, está se transformando, sem que os mesmos fatores externos que atuaram no "romance" peninsular, isso é verdade, se presentifiquem nessas plagas sulinas do território brasileiro. Mas as instituições sociais aqui estão em completa decadência e isso é um sinal de alarme. É só observar como a Escola está atuando na formação integral do cidadão. O Poder Legislativo está engessado pelo Executivo e seus representantes são, com raríssimas exceções, pessoas desqualificadas para o exercício do cargo, bem como despreparadas intelectualmente, sem dizer que muitos estão penalizados pela justiça, recorrendo de todas as formas legais ou não, para se livrar da Lei da “Ficha Suja”. Reconhecemos, no entanto, que muitas instituições culturais, de ensino formal ou de ensino assistemático, além de grande parcela da sociedade comprometida com tecnologias de ponta, como a internet, por exemplo, estão se esforçando para melhorar esse quadro terrível da cultura atual brasileira. Mas voltando às observações sobre o falar inculto que se generaliza nas principais cidades do sul do país, tenho observado que não se dá mais importância ao falar escorreito, ao emprego do registro culto da língua portuguesa, mesmo em situações onde isso seria exigido. Nas salas de aula de universidades, principalmente as particulares; nas salas dos professores das escolas; nas Câmaras de Vereadores; nas instituições culturas; nas reuniões dos Conselhos Tutelares e em muitos outros lugares e em inúmeras outras situações em que se exige o falar culto, a língua culta não é mais utilizada e os vícios de linguagem de todos os tipos grassam, desrespeitando as mais comezinhas regras gramaticais. É muito comum ouvir concordâncias erradas, plurais não sigmáticos, regências estropiadas, verbos conjugados erroneamente e muito mais. No falar menos rígido, isto é, no uso da linguagem familiar pode-se até relevar muita coisa, mas não a troca da vogal temática –A- dos verbos da primeira conjugação pela vogal -E-, numa troca que soa como uma martelada nos ouvidos da gente, por dissimilações, onde a sincronia imita a diacronia dos primórdios de nossa hitória linguística. Assim, é comum ouvir-se “Nós compremos isso muito barato”; “Nós falemos”; “Nós abusemos” etc., sem falar que o –S- da desinência número-pessoal, -mos- nunca é pronunciado. Isso já caracteriza a linguagem popular e ela está penetrando, cada vez mais rápido, no espaço de outros falares, sem que ninguém denuncie essa invasão e as autoridades educacionais tomem providência. Há, também, a má conjugação dos verbos INTERVIR, HAVER impessoal, FAZER no sentido de passar o tempo ou no de indicar a temperatura, além do emprego da voz passiva pronominal, como no caso de ALUGA- CASAS em vez de ALUGAM-SE CASAS, Nisso tudo muita gente com razoável nível de escolaridade, às vezes, escorrega, mas a preocupação surge porque não percebemos a vontade de mudar. Os falantes não se importam em se reciclar, em se especializar, em estudar, talvez pelo simples motivo de que não sabem que transgridem a norma gramatical. Aliás, a gramática não é bem vista em quase todas as classes sociais da região, muito mais interessadas na praticidade da vida, alegando que a língua portuguesa é muito difícil e que a toda hora estão se realizando reformas ortográficas, que só servem para piorar tudo. Por aí, se vê que a Escola está falhando de algum modo. Quando a internet exige rapidez na comunicação escrita, o usuário, por exemplo, tecla vc, significando você. Isso é razoável para quem sabe escrever você por extenso. De tanto escrever vc no lugar de você, fica-se sem saber que as palavras oxítonas terminadas em –a-, -é-, -ê-, -ó-, -ô- são acentuadas, por exemplo. Lembro-me de um fato ocorrido comigo numa turma de miúdos, creio que hoje seria uma Quita ou Sexta Série. A mãe de uma aluna veio me interpelar, dizendo que considerei errada a palavra caju que a filha marcara na prova mensal com acento agudo no –u-. Ela tentou provar que a filha havia escrito a palavra CAJU com acento agugo no –u- de forma correta. Para tanto, levou para me mostrar uma lata de doce de caju, comprada em um supermercado. Lá estava a palavra caju acentuada assim: cajú. Percebe-se que a referência dessa mãe, dessa família, talvez da toda sua comunidade, fosse o supermercado ou a fábrica de doce, em vez da ESCOLA. E a televisão tem alguma coisa com isso? Tem, sim, senhor! Programas como Soletrando e alguns outros contemporizam a mediocridade, mas é muito pouco. Umas das funções da televisão – são cinco – é a de informar. Mas nunca deformar. E como deforma... E a publicidade tem alguma coisa a ver com isso? Tem, sim, senhor! Quando mostra o erro; quando apresenta o desvio; quando insiste no errado, através da função persuasiva da linguagem. Mas sobre isso ainda vou falar futuramente. Portanto, se, por um lado o linguista encontra nesses acontecimentos um prato cheio para pesquisar, para descrever os fenômenos da língua, enquanto ”langue” e “parole”, por outro lado é entristecedor ver a nossa língua portuguesa ser aviltada, vilipendiada, estropiada, por pura falta de conhecimentos específicos e pela falta, principalmente, de uma política séria e objetiva para a cultura e para a educação. Mas, convenhamos, o que se poderia esperar desse país que teve durante oito anos um governo, cujo chefe foi o mais popular e representativo apedeuta nacional?

ATÉ A PRÓXIMA

13 de julho de 2010

FALTA DE EDUCAÇÃO

Tornou-se uma prática irritante, dentro dos bancos de todo o país, você ser atendido por gerentes e seus auxiliares de um modo muito estranho, para não dizer com total falta de educação. Trato lhano e educado não é jogar mesuras de um lado para o outro dentro do ambiente de trabalho e dar risinhos amarelos, tentando encobrir a chatice de um emprego estafante e mal remunerado, como esse de atendente bancário. Não é só isso, não! Ser educado, como minha mãe me ensinou, é dar toda a atenção a todos, principalmente aos aos mais velhos; aos menos informados; aos necessitados e, principalmente, às visitas. O cliente de um banco que vai pedir informações ao gerente de uma agência é uma visita. Lá em casa, eu, quando recebo alguém, jamais atendo a um telefonema e muito menos fico batendo papo com quem me procura por telefone ou por qualquer outro meio de comunicação interpessoal, mesmo que o assunto seja importantíssimo. Para isso deve-se ter um mínimo de inteligência e algum expediente, para contornarmos a situação, sem melindrar ninguém, muito menos a nossa visita. Pois bem, fui conversar, na segunda-feira passada, com a gerência do Banco Itaú, na Avenida Brasil, da bonita cidade de Balneário Camboriú e minha conversa foi interrompida mais de três vezes pela funcionária, atendendo chamados telefônicos, deixando-me perdido em meu raciocínio, pois tentava respostas para assuntos financeiros que não dominava. E mais! A pobrezinha da auxiliar de gerente fez com que eu digitasse várias vezes minha senha, sem nenhum resultado, pois sempre atendia ao toque estridente do telefone, o que me tirava a concentrarão e a paciência. A bronca foi inevitável. O gerente, ao lado, disse que eram normas e obrigação de todos os atendentes prestarem informações, tanto presenciais como à distância, por telefone. É, parece até escola moderna com os famigerados Cursos por Teleconferência. Isso, francamente, não é uma forma polida de se prestar serviço! E como eu não estava matriculado naquela escola de Cursos à Distância, embora fosse "aluno-cliente" há mais de 25 anos daquele banco escolar, fui à “secretaria” e pedi meu “boletim” para desligamento, pois existem muitos outros estabelecimentos do gênero aqui nessa bonita cidade onde moro. Se todos os clientes mal atendidos tomassem a atitude que tomei, na hora, em bom e alto som, todos os serviços de repartições públicas ou privadas dariam um salto fantástico de qualidade. Por enquanto, quem pulou para um outro BANCO fui eu.

ATÉ A PRÓXIMA

2 de julho de 2010

D E S E S T A B I L I Z A Ç Ã O

Quem é pobre não se desequilibra, haja vista o sofrido povo nordestino que passa por secas e enxurradas, por descasos das autoridades públicas e por ataques de bandidos aos sofridos flagelados de todo tipo. Quem é pobre não se desequilibra nem se desespera. O pobre está sempre se referindo a um outro sistema simbólico para tentar explicar suas vicissitudes, pedindo a Deus e ao “Padim Padi Ciço” uma interferência a fim de que não o faça sofrer mais e botar sua vida nos trilhos. Quem é pobre se resigna com as coisas adversas e não se desespera, pelo contrário, não ameaça ninguém nem dá ponta-pé nos outros, nem murro nos postes ou no chão, de cabeça baixa. Quem é pobre acha até que tudo é o desejo do Onipotente, o responsável pela privação e provação, quando perde casa, gado, plantação e até seus entes queridos, mas não se desequilibra. Quem é pobre tenta encontrar um caminho mais curto, mas difícil, para sair da pobreza, mesmo não tendo quase nenhuma opção para isso. Então, o pobre, em sua maioria absoluta, vai tentar ser jogador de futebol. Aí, com muita sorte e também esforço ele vence, sai da caatinga, da favela (agora chamada de comunidade), das cidadezinhas tristes e sem graça nenhuma do interior do Brasil e vai, às vezes, sem passar pelos grandes centros das capitais, diretamente para o exterior. Vai para a Europa. Vai para o Real Madrid, para o Barcelona, para o Milan, para o Benfica, para o Manchester United, para o Arsenal, para o Paris de Saint-Germain, para o fim do mundo, para as Arábias, para os Emirados e Sultanatos do Islã. Então, esses meninos jogadores de futebol se tornam ricos e só voltam ao Brasil, para a Granja Comary, em Teresópolis, para servirem à Seleção Brasileira. Tornam-se canarinhos ricos, verde de dólar e amarelo de camisa cheia de propaganda. Dizem que esses jogadores, oriundos da pobreza, se transformam e passam a ter um sistema emocional compatível com sua nova posição de craque, de estrela pop, de “enfant gâté” de treinadores e de cartolas do futebol nacional e internacional. Mas onde está o equilíbrio emocional? Não existe, porque ao se tornarem ricos, com sua vida estabilizada, seu parentes próximos todos com a vida ajeitadinha, tudo cem por cento organizado e resolvido materialmente, perdem o equilíbrio emocional que devem manter dentro de uma competição, porque já têm muito e pensam que podem fazer o que lhes vem à cabeça, do charminho aos pisões desleais e criminosos, prejudicando toda equipe. De mais a mais pensam que se fizerem alguma besteira nada têm a perder. Estão pouco ligando para essa de autocontrole. Se conseguiram vencer a miséria, a fome e a morte súbita no agreste interiorano ou no fundo do nordeste brasileiro, pensam ser jogadores de futebol que desequilibram tudo e todos, não se importando com as dificuldades de um jogo decisivo, por exemplo. Admitem para si mesmos que a vitória chegará a qualquer momento, mas não estão preparados para o pior. Chegando esse pior, na forma de um fantasma ou na forma de um acidente em campo, se descontrolam e assim se comportam porque são ricos, ganham muito, mas muito mesmo, e quem quiser que prepare justificativas de toda sorte para explicar as suas inconsequências. O pobre não se desequilibra. Os ricaços de nossa Seleção Brasileira de Futebol, sim. Com isso tudo ficamos muito tristes, mas o Brasil pode até ter um lucrozinho (e que sirva de lição, mesmo), porque, tenho certeza, muitas outras crônicas vão aparecer centradas na soberba de alguns de nossos jogadores, para corrigir de vez todos esses erros desconcertantes na formação de um eleco que não reside mais aqui, nem nas grandes cidades, nem na caatinga e agreste nordestinos e, muito menos, nas favelas e alagados dos pauls lamacentos, há muito tempo.





ATÉ A PRÓXIMA
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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.