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28 de abril de 2009

NA ENCRUZILHADA SILENCIOSA DO DESTINO QUANDO A BURRICE SE MULTIPLICOU















Meus leitores que me perdoem por iniciar esse texto com palavras do lindo poema de Olegário Mariano. Mas foi somente para introduzir uma charada cultural. Voltaremos a isso no final.





Parecia que eles estavam de brincadeira comigo. Teria de viajar 700 quilômetros para pagar a conta que recebi alguns dias depois do vencimento. Eu passeava pelo interior do Estado e estive até na cidade do Rio de janeiro. Quando voltei a Santa Catarina, abri as janelas do apartamento deixando o sol entrar, verifiquei todas as faturas que ainda não estão em débito automático. Nada da fatura daquela loja que não existe em Santa. Bem, como isso poderia ter acontecido em função das chuvas que insistem em cair por aqui, impedindo, muitas vezes, o trabalho dos correios, fiquei sossegado. Mas não foi por muito tempo, não! No dia seguinte, à noitinha, recebo um telefonema da tal loja que tem um nome esquisito. –Meu senhor, o senhor tem de ir a Porto Alegre pagar imediatamente essa fatura. O senhor está em débito conosco. Seu nome vai para o SPC. O pagamento só pode ser efetuado em uma das nossas lojas. Está tudo no contrato que o senhor assinou. Assim que o senhor percebeu que a fatura não tinha chegado, deveria ter se comunicado com o nosso 0800... –Mas senhora, como eu poderia saber isso se eu não estava em casa e para mim a fatura seguiu seu caminho, dentro dos prazos...e eu moro em Balneário Camboriú, Santa Catarina. – O senhor, pelos nossos registros, deverá ir a Porto Alegre e pagá-la em uma de nossas lojas. –Mas, senhora, a fatura é de menos de duzentos reais e só para eu ir lá vou gastar, de ida e volta, mais de mil, ora bolas! Um caos. Nunca vi nada tão kafkaniano. E era tudo real, mesmo. Pedi uma orientação para que eu pudesse honrar o pagamento da minha fatura e a resposta era sempre de que está tudo previsto no contrato que o senhor assinou e se não pagar vamos colocá-lo no SPS. –Mas deve haver uma solução menos traumática, senhora! O que a senhora está propondo é inusitado. Não faz sentido. Nessa altura da falação, discussão, quase gritaria, pedi para falar com alguém mais sensato, de nível mais elevado na hierarquia daquela empresa desastrada. Veio uma tal de superintendente. –Boa noite, senhor, em que posso ajuda-lo? Repeti tudo e pedi encarecidamente uma forma plausível, inteligente, coerente, prática, rápida, para ela solucionar o caso e que ela fizesse alguma coisa, que raciocinasse, já que era SUPERVISORA-CHEFE, pessoa, creio, com uma boa formação educacional, possuidora, talvez, de um diploma de primeiro grau de uma escola da periferia de uma grande metrópole, o que a credenciaria para solucionar, tenho certeza, aquela situação criada por força de um eventual atraso de correspondência... Que nada! A mulher repetia como alguém que decorou um texto de teatrinho mambembe – com todo respeito a esse tipo de espetáculo, desempenhado por gente inteligente – e repetia que eu teria de ir a Porto Alegre, mesmo estando a mais de 700 quilômetros da capital dos gaúchos e fazer o pagamento numa das lojas da sua organização. Então, quase perdendo a paciência totalmente, perguntei se alguém poderia pagar por mim numa loja, em outra cidade. –Pode, sim, senhor, mas essa pessoa de sua inteira confiança terá de se apresentar com um documento seu, de preferência sua identidade, original, com foto recente e tudo dentro de uns vinte dias, senão seu nome irá, tranquilamente, para o SPC. Bem, pensei, isso é quase impossível e não há jeito mesmo! Então, pela segunda vez tentei dar uma solução, já que deles não vinha nenhuma. –Senhora, posso passar a fatura vencida por fax para ser paga por uma pessoa minha amiga, numa cidade onde haja loja dessa rede de supermercados? Então pasmem, leitores incrédulos! Eis a reposta. PODE, SIM SENHOR. Realmente é assim que os consumidores são tratados na maioria das vezes. Por gente bitolada, sem poder de decisões, sem raciocínio rápido, de longas frases e curta capacidade reflexiva, além de muitos outros predicados negativos. Agora, vamos tentar dar nomes aos bois por meio de uma estratégia linguística. Digamos que caí, como os franceses dizem, numa “ENCRUZILHADA” . É só traduzir!

ATÉ A PRÓXIMA

19 de abril de 2009

MANHÃ DE GINÁSTICA



Estou em Copacabana desde o início da semana. Portanto, há quase sete dias ando por estas bandas da Cidade Maravilhosa, hoje já nem tanto... Mas faz bom tempo e os trabalhadores muitas greves. Nos corredores do hotel os funcionários só falam na paralisação dos trens da baixada, na greve de adesão dos ônibus e de muitos outros serviços. Claro, isso é o Rio de janeiro que eu sempre conheci. Formidável! No pátio, lá embaixo, um professor de ginástica para a terceira idade se esgoela e palhaceia, intitulando-se de titio belo, deslumbrando as muitas velhinhas e alguns velhinhos que se esticam e rangem os ossos, sacudindo as pelancas em exercícios bem leves. Todos aplaudem o professor ao final de cada sessão. Na rua ainda passam alguns vendedores de frutas e um jurássico tripeiro. Pensei que era uma profissão extinta. Nada disso. Em Copacabana essa gente ainda resiste à modernidade, pois esse bairro carioca é o que mais abriga idosos em toda a capital fluminense. Os antigos prestigiam as coisas do passado, desde que sejam boas... O professor de ginástica, agora faz mais uma piadinha boba com duas alunas de meia idade, que chegaram atrasadas. Toda turma ri. As crianças dos edifícios ao lado vêm para o pátio do hotel com suas babás que empurram carrinhos de todos os tipos, de gente rica, de gente da classe média e de gente bem caidinha e muito endividada. As manhãs no pátio do HOTEL DO SESC exalam democracia comunitária nos mínimos detalhes. Se vocês não acreditam e se tudo isso que falei não prova nada tentem, leitores incrédulos, imaginar um segurança, todo de preto, com um radinho na cintura e um botão eletrônico auricular, adentrando no pátio, pouco se importando com a aula de ginástica, dando uma bronca danada numa babá de um ricaço, por deixar a criança toda engraçadinha – que lindinha - arrancar uma florzinha da jardineira lateral. Um pirralho mais crescidinho, de uns sete ou oito anos, em socorro da pobre coitada atônita, começa xingar o brutamonte, que, imediatamente paga geral, dizendo em alto e bom som que respeito é bom e eu gosto. Imediatamente ouviu-se uma vaia formidável que ecoou no portão do Forte de Copacabana, cheio de turista, lá no fim da praia, no posto seis, a vários quarteirões de distância. O professor feio pra cachorro, dizendo-se o mais bonito da área, encerra a aula e as velhinhas batem palmas. Vão embora e não percebem uma briga feia entre dois mendigos que lutavam pela posse de uma nobre área de estacionamento clandestino, cuja placa demarcatória da Prefeitura fora completamente destruída. O sol convidava para uma boa praia. Fui.

ATÉ A PRÓXIMA

6 de abril de 2009

O ENSINO BRASILEIRO E A MATEMÁTICA


Recebi hoje um e-mail que, ironicamente, mostra como o ensino no Brasil se deteriorou, a partir da década de 50. A hilariante apresentação servia-se do ensino da matemática para criticar a involução dos estudos nas escolas brasileiras. O mote que envolveu o tema em questão bem que poderia ter sido verdadeiro, pois mostra uma situação embaraçosa por que passou uma funcionária de uma caixa de supermercado, quando não entendeu o acréscimo à conta, pelo próprio cliente, para facilitar-lhe o troco, deixando de receber muitas moedas e isso facilitaria a vida do empregado. Realmente, hoje em dia não se ensina tabuada nas escolas e os alunos se viciaram nas calculadoras. E mais, contam nos dedos para somar ou subtrair. Multiplicar e dividir nem se fala! Isso só mesmo no computador... Mas não é só a matemática que sofre nas escolas de Ensino Fundamental e nas de Ensino Médio. A Língua Portuguesa, lá, é estropiada a todo o momento. O plural de nosso idioma, por exemplo, deixou de ser sigmático e a maior prova disso está na fala de nosso maior representante político, o Presidente da República. Uma vergonha! Mas esse descalabro atingiu também o Ensino Superior. Em 1970, junto com mais três professores do mais alto gabarito, catedráticos de escolas do Estado do Rio de Janeiro, na época, e de faculdades de filosofia, ciências e letras, publiquei um livro didático, pela Editora Melhoramentos de São Paulo, intitulado PORTUGUÊS NO SEGUNDO GRAU. O livro destinava-se ao ensino da língua pátria no antigo Científio, agora Segundo Grau. Foi um sucesso. Era adotado nos mais significativos e importantes colégios do Estado, além do Colégio Naval, Instituto de Educação, São bento e Santo Inácio, só para citar importantíssimos estabelecimentos de todas as épocas da Cidade maravilhosa. Em São Paulo, da mesma forma, o nosso livro foi adotado em significativos e tradicionais colégios particulares, leigos e religiosos, em toda a região metropolitana e no interior. Muitos anos depois, mais precisamente dez anos após o lançamento – livro teve duas edições e duas reimpressões – dando aula de Lingüística, no Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), qual não foi a minha surpresa quando vi que um colega de Língua Portuguesa estava adotando o meu livro em duas turmas e em turnos diferentes, em forma xerocada, pois a edição estava esgotada e não fora reeditado, por força da penúltima reforma ortográfica. É claro que fiquei contente, mas, ao mesmo tempo triste, porque percebi claramente a queda e a deterioração do ensino, pois um livro que apresentava conteúdos para o Nível Médio era agora, dez anos depois, utilizado para sedimentar informações lingüísticas a futuros professores da língua pátria, "adotado" numa Faculdade de Filosofia, num Curso de Letras. Uma pena! Tem toda razão o autor do e-mail que recebi, expondo as feridas da queda vertiginosa de nossa cultura, de nosso ensino e, principalmente de nossa dignidade em resolver problemas de todos os tipos, principalmente os matemáticos. Logo agora que nos Estados Unidos, mataram estupidamente um competentíssimo e esforçado professor brasileiro, doutor nas ciências de Adolphe Quételet, Frans van Schooten, William Thonson, Albert Einstein, Isaac Newton, Sixto Ríos Garcia, Chebyshev, Abu Ja'far Mohamed, Hipócrates de Quios, Arquimedes de Siracusa, Tales de mileto, Pitágoras e muitos outros.

ATÉ A PRÓXIMA

PROFESSEUR EN QUÉBEC



Meu filho, Cláudio, voltou do Canadá na semana passada. Ele esteve em vária estações de esportes de inverno em torno da província de Quebeque. Veio encantado com as cidades de lá, principalmente pela organização nos serviços turísticos das estações de esqui e pelo aparente funcionamento das instituições, além da regularidade com que a comunicação de superfície funciona, apesar do rigoroso inverno. No subsolo, o fluxo do metrô e o comércio subterrâneo, com a movimentação da população ordeiramente comportada e as vendas fluindo de maneira a fazer inveja aos países em crise, era tudo que ele pensava mesmo sobre aquele mundo politicamente correto que enchia os olhos do visitante. Aliás, meu filho, repetidamente perguntava para si mesmo, conversando com os botões do seu elegante sobretudo, onde estaria a crise naquelas regiões interessantíssimas de Mont Tremblant, naquele Canadá-primeiro-mundo-sim-senhor! Bem, há coisas nesses lugares que os nossos olhos não vêem e, se vissem, nos proporcionariam um total desencanto, talvez, e nossos corações terceiro-mundistas sofreriam muito...Mas a televisão do apartamento de seu hotel estava sempre ligada, seu radinho bem sintonizado nas estações populares e ele lia os jornais diários, aperfeiçoando-se no bilinguismo anglo-latino, sem nada notar de anormal, que ferisse aquela incrível e invejável mansuetude administrativa e social de causar inveja a nós, pobres mortais das regiões tropicais, abaixo do equador. Pois bem, a notícia que segue joga por montanha abaixo, como uma avalanche de neve nas pistas onde ele se exercitou no seu snow-board, aquela sensação que se tem de que tudo lá está sempre em seus lugares e a perfeição ordena o sistema psicossocial da região da Ville de Québec. Censura nem passou por sua cabeça, ora bolas, afinal ele estava no mais civilizado dos países, segundo o último ranking da ONU. Senão, vejamos:


Os professores da UQAM (Université du Québec à Montréal) permanecem em greve pelo menos até esta segunda-feira (6/04), quando a categoria realiza nova assembleia. Entre as reivindicações, encontram-se a criação de 300 novas vagas para docentes, a equiparação salarial com outras universidades do Québec e a garantia de que a categoria continue a definir as atribuições das funções do docente (a administração da UQAM ameaça intervir neste direito). Segundo o Sindicato dos Professores da UQAM, a greve, que dura mais de vinte dias, obtém adesão crescente da categoria”.
Mais informações em: www.spuq.uqam.ca

E depois picham as nossas universidades, dizendo que greve é coisa de vagabundos, de pelegos, quando a categoria docente das universidades públicas paralisa as aulas, reivindicando melhores salários, planos de carreira e condições de trabalho, entre outras coisas, como sói acontecer na nossa UERJ e agora mesmo na USP.
Foto de Cláudio Feijó

ATÉ BREVE.
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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.