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22 de dezembro de 2008

AINDA MACHADO E CAPITU


Para que ninguém me considere um casmurro (claro, sem nenhum rapapé aristocrático, portanto nada de Dom) estou agora muito feliz em ler a recensão feita por Renato França, no Diário Catarinense, intitulada UM CRIATIVO E FIEL DIÁLOGO. O autor é jornalista, mestre em Teoria Literária e doutorando em Literatura na UFSC. Seu texto se refere à adaptação de Dom Casmurro, feita por Luiz Fernando Carvalho, levada ao ar, há uma semana, pela Rede Globo de Televisão, apresentado como microssérie, com o nome de CAPITU. Segundo Renato, o texto do romance machadiano é um primor estético e a transcodificação para a televisão não traiu absolutamente a literatura de Machado. Aponto essa crítica como uma forma lúcida e bem cuidada, com sólida abordagem teórica, dada ao público em geral e aos especialistas em particular, na tentativa de divulgar cada vez mais o nosso maior escritor. Mas é preciso que muitos outros textos surjam nos jornais, principalmente nos que circulam fora do eixo Rio-São Paulo, para que os que estão mais afastados desses centros de influência universitária e acadêmica possam tomar conhecimento, com razoável entendimento lingüístico, de cada vez mais formas de se ler o discurso eclético de Machado de Assis, ficando cientes da sua universalidade e de sua atemporalidade, principalmente. Tomara que muitos outros críticos e jornalistas se louvem no exemplo dos bons comentários e nas interpretações bem fundamentadas! Tomara que equívocos e sandices sobre Machado de Assis não se repitam, como apontamos recentemente, nesse momento em que se comemora o centenário da morte do fundador da Academia Brasileira de Letras e seu primeiro Presidente. A minissérie CAPITU mostrou-nos uma transcodificação que, na opinião de Renato França, com a qual concordamos plenamente, apresenta um resultado primoroso pela organização estética do expressionismo televisivo, não traindo, absolutamente, a sua forma literária. O apelo do articulista tem, também, endereço certo: os produtores culturais que, “por conta um mercado míope”, não vêem a possibilidade de proporcionar a culturalização das massas – dizemos nós sempre que podemos – vindo a praticar somente água-com-açúcar infanto-juvenil, além de muitas bobagens travestidas de cultura. Parabéns ao CADERNO CULTURA do Diário Catarinense de 20 de dezembro de 2008, que publicou o correto artigo sobre o programa CAPITU da Rede Globo de Televisão.

ATÉ A PRÓXIMA


19 de dezembro de 2008

BICICLETAS EM LAGES

Antes de me dirigir à Pousada Rural do SESC, em Lages, Santa Catarina - vinha de Gramado, no Rio Grande do Sul - dei uma volta pela cidade, pois tinha de abastecer com GNV. Segui pela BR 116, passando da última entrada da cidade e, numa curva bem fechada, percebi que vinha um ciclista na pista da esquerda, em baixa velocidade por causa da subida acentuada. O posto de abastecimento ficava a poucos metros e enchi o cilindro. Já havia sido reparado o estrago na tubulação de gás natural vindo da Bolívia que se rompera com as tristes e alagadoras chuvas que caíram em muitas cidades catarinenses. Voltando, encontrei o ciclita. Buzinei para ele, como forma de cumprimento e foi saudado também com um aceno rápido e alegre. Na Pousada Rural do SESC, depois de me alojar, muito bem, diga-se de passagem, soube que o aventureiro das pedaladas era o Fabrício, recepcionista da pousada, que estava em seu último dia de férias e vinha há mais de seis horas subindo a serra, desde Rio do Sul, sua cidade natal. Dois dias depois, conversamos na recepção e soube de suas aventuras passadas nas serras catarinenses, atravessando vales e subindo montanhas, desde São Joaquim, passando por Urubici, descendo a Serra do Corvo Branco e subindo a do Rastro, com a animação de um candidato a fundista numa próxima competição internacional, talvez. Conversei longamente com o Fabrício. Fiquei sabendo de suas peripécias ciclísticas, de seus planos para o futuro. Mas seu projeto, como me disse entusiasmadíssimo, é cruzar o Estado do Amazonas, de Belém, no Pará, até Rio Branco, no Acre. Ficamos, depois do seu expediente, conversando mais ainda sobre aventuras radicais e a saudade tomou conta de minha memória. Revivi os tempos de minha mocidade, quando, também no Amazonas, conheci regiões incríveis, sem bicicletas, sem pedaladas, sem mochilas às costas, mas em missão, por força de meu trabalho na TV Educativa do Rio de Janeiro. O Fabrício é meu conhecido há muitos anos e, desde minha primeira hospedagem em Lages, no SESC, onde ele trabalha e é muito conceituado, sempre conversamos sobre muitas coisas, mas não sabia desse seu gosto por aventuras radicais. Quanto ao seu ambicioso projeto amazônico, só precisa de patrocinadores, pois competência e expreriência não lhe faltam. Creio que ainda lerei uma grande reportagem nos jornais catarinenses falando desse rapaz que tem esse firme propósito de se aventurar no pulmão verde de nossa amazônia, exemplo de tenacidade e amor à sadia prática aeróbica.
Vamos tentar encontrar um patrocinador para o Fabrício, minha gente!
ATÉ A PRÓXIMA

17 de dezembro de 2008

UM EQUÍVOCO MACHADIANO



Voltei a Gramado, para desfrutar, mais uma vez, das belezas naturais do sítio brasileiro de Papai-Noel e da amizade de muitos amigos que por lá fiz, no decorrer de mais de cinco anos, pois levo meus netos aos festejos natalinos, magnificamente ensaiados, colorindo nossas almas com a luminosidade da esperança e da paz. Fiquei por lá uns cinco dias. Em Gramado sempre encontro muitos amigos, mas quem me botou a par das novidades gramadenses foi o Osório, sempre simpático e alegre, na recepção do Hotel do SESC, onde me hospedo. Assim, envolvido por esse espírito de confraternização, descansava pela manhã, lendo os jornais na portaria, quando me deparei com um artigo que me tirou do sério e me indignou profundamente.
No Correio do Povo de 16 de dezembro de 2008, li com os olhos muito arregalados a coluna de um tal Juremir Machado da Silva, cujo título era CHEGA DE MACHADO. A princípio, pensei que fosse referência a ele mesmo, pois poderia ser uma crônica sobre o estigma de seu sobrenome, uma arma para derrubar que carregava desde o nascimento, abatendo tudo e todos que se lhe apresentassem à frente, desde sua infância, talvez não muito bem resolvida. Mas não era isso! Tratava-se mesmo do Machado de Assis da nossa literatura. O artigo tinha esse nome, incrédulo leitor: CHEGA DE MACHADO DE ASSIS. Tratava-se de um chato da literatura brasileira, um brega de estilo maçante que ninguém mais lê, muito menos os estrangeiros. Esse articulista chega mesmo a pregar a prática iconoclasta entre os brasileiros, para "machadear" os escritores de estilo ultrapassado. Fiquei pasmado com o que ia lendo, sempre pensando encontrar um momento em que tudo se esclareceria a favor de uma técnica de narração, quem sabe, igual ao trabalho pedagógico conhecido como insucesso inicial, motivando o aluno para futuras reflexões críticas no processo ensino-aprendizagem. Não se tratava de nada disso, também! O cara era mesmo contra Machado de Assis e sua obra, para ele ultrapassada e desconhecida de muitos estrangeiros. Cita o desconhecimento de Machado de Assis por Umberto Eco. Chama os romances machadianos da fase romântica de brega, inclusive sua poesia, culminando por abominar a minissérie, Capitu, da Globo. Depois de muitas sandices e, quem sabe, algum remorso, termina seu triste comentário dizendo que gosta de Machado de Assis, mas que já era hora de se parar com as comemorações do centenário de sua morte. Será que o Correio do Povo de Porto Alegre não tem colaborador mais preparado no setor literário, capaz de perceber as diversas fases de nossa literatura e não misturar as características históricas do romantismo e do realismo, deixando, assim, de entender essas etapas dos estilos de época, passagens para uma nova representação de textos supra-realistas? É claro que esse equívoco machadiano de Juremir já se encontrava no Machado articulista do Correio do Povo, desde o seu nascimento. Assim, prezado leitor, não me julgues pela ira e nem pelo gesto antiético, mas pelo horror à mediocridade.
Até Lages.

2 de dezembro de 2008

EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS


Nos meus textos sobre a linguagem especial do futebol falo muitas vezes em EXPRESSÃO IDIOMÁTICA, referindo-me a determinada frase ouvida em comentários sobre os jogos de futebol, pelos jogadores, locutores ou apresentadores de programas esportivos, no rádio ou na televisão. Perguntaram-me o que é, lingüisticamente, uma expressão idiomática. Em meu livro BALANÇANDO O VÉU DA NOIVA, disse, no Capítulo 3, na página 221, que é uma expressão lingüística, característica de certo idioma, no tempo e no espaço, como à Bangu, abrir o jogo, abrir uma avenida, abrir as pernas, acariciar a bola, alugar meio campo, jogar a toalha, ripa na chulipa, zona do agrião, etc. Mas, agora, com maior espaço para me estender sobre o assunto, remeto o meu leitor a J. Mattoso Câmara Jr. quando diz “que os traços lingüísticos de uma língua, que melhor a caracterizam em face das outras que lhes são cognatas, como, por exemplo, em português o infinitivo com desinências de pessoa”, ao mesmo tempo em que, em sentido estrito, são as “construções vocabulares e frasais que não se prestam a uma análise, satisfatória na base dos valores atuais da língua, porque resultaram de fenômenos de analogia e atração, e só se explicam à luz da história da língua”. E dá como exemplos dar as da Villa-Diogo e chorar pitanga. Esses dois exemplos do eminente lingüista foram estudados e explicados por João Ribeiro, em seu livro Frases Feitas, de 1960, publicado pela Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro.
Vamos tentar, agora, brevemente, explicar uma dessas expressões que chamei idiomática, citada acima e que se encontra no meu livro BALANÇANDO O VÉU DA NOIVA, retirada do riquíssimo universo morfológico da linguagem especial do futebol.
À Bangu
Trata-se de uma expressão cujo sentido só pode ser explicado dentro da história desse conjunto de elementos signicos e pertinentes, da língua portuguesa e, portanto, com significado no contexto do futebol carioca. Pelo prestígio desse esporte, a expressão passou para gira da língua comum, mantendo o sema de desorganização, sem, contudo, ser aplicado exclusivamente no futebol. Só por um estudo da história do termo Bangu, no contexto da vida social do Rio de Janeiro é que poderemos entender o significado lingüístico de toda a expressão. Parece que a origem dessa locução adverbial de modo, à Bangu, usada na linguagem especial do futebol (gíria), remonte às partidas-treino, sem maiores compromissos, ou a partidas disputadas pelos times das divisões inferiores do Bangu Atlético Clube. O Bangu é um dos mais antigos clubes de futebol do Rio de Janeiro. Nasceu como “The Bangu”, tendo suas origens na empresa inglesa, Companhia Progresso Industrial do Brasil, no bairro carioca de Bangu, onde, no início da Liga, jogavam alguns negros, desde que fossem operários daquela fábrica têxtil. Durante algum tempo, os jogadores do Bangu Atlético Clube foram chamados pela imprensa dos anos 40 e 50 de os mulatinhos rosados, pelo significativo número de jogadores de origem negra e mestiça e, também, pela cor rosada das listras verticais do uniforme do clube, sobre fundo branco. Como poderia alguém, fora desse contexto histórico, precisar o real significado da expressão À BANGU ? A construção vocabular em destaque não se presta a uma análise satisfatória, na base dos valores atuais da língua, sem as explicações acima.

ATÉ A PROXIMA

25 de novembro de 2008

CHOREM POR SANTA CATARINA

A tragédia climatológica que se abateu sobre o Estado de Santa Catarina foi muito cruel em todos os sentidos. Ceifou vidas sem a menor chance de defesa, pois os desabamentos de casas e barrancos ocorreram sem nenhum aviso prévio. Além disso, as águas dos rios sobem assustadoramente em questão de minutos. Nada pode suprir a dor da perde de seres humanos, muitas vezes pobres e já castigados, na seca, pelas vicissitudes da vida.

A dor é muito grande quando se perde um ente querido em tragédias desse tipo, sem nenhuma explicação, a não ser a incompreensível atuação das forças da natureza. Todos ficamos à mercê da solidariedade. Mas, há os que se aproveitam do horror dessas situações para saquear, furtar e, até mesmo, se aproveitar da premente necessidade dos flagelados, aumentando os preços de materiais indispensáveis à sobrevivência, como água, pão e outros víveres de primeira necessidade. Momentaneamente compreende-se que haja falta de alguma coisa como combustível, medicamentos, comida etc. Mas será que as autoridades estão preparadas para executar esses reparos? Reparo de pontes, gasodutos, oleodutos, reservatórios de água, silos e de muitas outras obras de arte que regulam a vida social. O Estado nunca está preparado para atuar na desocupação dessas áreas atingidas. Parece que sempre existe uma explicação na ponta da língua dos homens públicos entrevistados. As instituições não estão preparadas para evacuar campos alagados ou regiões que se desmoronam pela força das águas das enchentes, proporcionadas por chuvas atípicas, em épocas atípicas e em locais atípicos. Isso também é muito difícil, pois, por aqui, a natureza foi muito impiedosa e o desastre aconteceu em tom de calamidade. O rompimento e a explosão do gasoduto que vem da Bolívia, para alimentar o sul de Brasil e que passa pela BR 470, em Santa Catarina, ocorrido no dia 22 de novembro pelas chuvas torrenciais que desabaram nesse Estado, ainda não foi reparado, após mais de 48 horas, deixando as indústrias e os usuários do GNV desta e das demais regiões totalmente inoperantes. Decididamente o Brasil não está preparado para nenhum tipo de tragédia dessa magnitude nem para eventuais conflitos interno e externo. Uma tristeza! Não há uma política de mobilização nem desmobilização. Não há planos para provimentos nem para alternativas de prevenção. Não existem políticas de educação ambiental satisfatórias.
Deixa-se construir em qualquer lugar, em qualquer barranco, em qualquer margem de rio... Não se tem notícias de nenhuma estratégia de deslocamento, por exemplo, de viaturas, de uma região para outra, quando as principais vias de acesso são obstruídas. As nossas estradas, sempre em péssimo estado de conservação, são facilmente interrompidas com qualquer chuva miúda. Imaginem com esse verdadeiro dilúvio que desabou sobre nossas cabeças! Louva-se, é verdade, o esforço, o denodo e a solidariedade dos bons brasileiros, de toda essa corajosa gente catarinense, das prefeituras e da Defesa Civil, mas um desastre desse porte como esse, agora presenciado em Santa Catarina, serve, sem dúvida alguma, para, além de nos comover ao extremo, nos alertar da fragilidade operacional que existe no país, tanto quanto ao impedimento de circulação da população civil e principalmente quanto ao aspecto da segurança nacional.
ATÉ A PRÓXIMA

17 de novembro de 2008

A FAMA E AS DROGAS



Perguntaram-me se eu tinha pena dos artistas de televisão que se drogam, como é o caso de Fábio Assunção. É claro que se deve ter pena dessas pessoas, mas isso não é conflitante com o meu pensamento a respeito do consumo de drogas pesadas por parte de celebridades, atores, atrizes e gente de posses e de “status” social elevado. São esses consumidores que alimentam o crime organizado e a bandidagem das nossas grandes cidades, agora se deslocando para o interior pacato do território brasileiro. É claro que a descriminalização do usuário de drogas teve, filosoficamente, uma intenção, mas foi um desastre na prática. Não sejamos hipócritas de não reconhecer que a classe alta de nossa sociedade alimenta esses bandidos dos entorpecentes, buscando o pó nas favelas e até recebendo os papelotes em domicílio, com hora marcada e tudo. Por outro lado, surgem sempre na mídia matérias jornalísticas sobre atores de novelas que se deterioram moralmente no consumo da cocaína, trazendo para os fãs e para os aficionados da dramaturgia uma comoção incontida e uma peninha generalizada. Tenho a impressão de que o mal foi deixar de penalizar o usuário. Essa decisão talvez tenha sido tomada mais para aliviar o ambiente privado dos poderosos do que, propriamente, por convicção a teorias jurídicas e científicas. O viciado também é responsável pela morte do inocente, por bala perdida, no conflito – guerra mesmo – entre bandidos na favela. Considero, da mesma forma, os dirigentes públicos de uma cidade responsáveis pelos crimes de morte, porque nada fazem de concreto para impedi-los e são alertados do perigo iminente que essas batalhas urbanas levam à população, deixando todos os cidadãos à mercê de sua sorte e de suas orações, aumentando a estatística de óbito na sangrenta disputa do ilícito, um milionário negócio. Se os tiros e disparos a esmo representam a forma mais visível de carnificina urbana, a descriminalização do usuário dependente de drogas pesadas materializa, em primeira instância, a hedionda forma incruenta da chacina.
Até a Próxima

7 de novembro de 2008

CORRIDA DE BARATINHA II

Millôr Fernandes, o mais culto e inteligente jornalista (e muitas outras coisas boas a mais) brasileiro em atuação, escreveu essa verdade cristalina (ver embaixo AUTOMOBILISMO), carregada da mais pura verdade, repleta de octanagens, comentando esse tal de esporte chamado de Fórmula 1. Esporte? Que nada! Há alguns anos, publiquei no jornal português da cidade do Porto, O PROGRESSO DA FOZ, uma crônica intitulada CORRIDA DE BARATINHA. Fiquei esperando que algum dos 100 leitores brasileiros (havia 100 brasileiros assinantes daquele mensário aqui no Brasil) dissessem alguma coisa sobre o assunto, apoiando-o ou renegando-o. Que nada! Ou não leram ou deixaram pra lá. É o preço que se paga por não ter estilo... Agora, vibrei com esse texto do Millôr. Bravos! É isso mesmo! Essa tal de Fórmula 1 pode ser uma atividade de pesquisa que procura principalmente o desenvolvimento de tecnologias aplicadas à indústria automobilística ou qualquer coisa parecida, mas esporte não é. Que esporte é esse em que o técnico manda um atleta fingir que perde e outro fingir que ganhou? Millôr foi fundo e disse tudo. Na época, eu fiquei indignado, porque quem deveria pisar no acelerador, pisou na bola...



Vou republicar meu texto de novembro de 2004.



CORRIDA DE BARATINHA


Eu sempre disse que Fórmula 1 não é esporte. É uma atividade de pesquisa que procura principalmente o desenvolvimento de tecnologias aplicadas à indústria automobilística. É uma atividade de aceleração social, mas, não é esporte. Para tanto, precisa de recursos e altos investimentos. Necessita, ainda, de um grande número de pessoas e instituições que lhe proporcionem a divulgação de suas atividades, entre tantas outras coisas. A Fórmula 1 surgiu da prática automobilística das corridas de baratinhas (os carros pareciam charutos com grandes rodas, lembrando baratas, daí a metáfora), como acontecia no passado, há uns cinqüenta anos, mais ou menos. Naquela ocasião, a lisura empolgava o público em eventos emocionantes. Eram outros tempos... Até vidas heróicas eram ceifadas em nome da aventura e do entusiasmo. Tudo dignificava a disputa, envolvendo o vencedor nos louros da lídima e incontestada vitória.

A fórmula 1 evoluiu e conseguiu que multidões de aficionados consumissem seus produtos promocionais, comprando bilhetes para as corridas e muito mais, criando um marketing que funciona e propaga seus espetáculos com grande sucesso. A tecnologia desenvolvimentista, travestida de competição esportiva conseguiu, durante muito tempo, enganar a todos. Mas no domingo 12 de maio de 2002, na Áustria, a máscara caiu. A tal Equipe da Ferrari mandou que Rubinho não mais pisasse no acelerador e, assim, ambos pisaram na bola. Agora, não me venham dizer que Rubinho teria que desobedecer a ordem da chefia. Que ele deveria se insurgir contra um absurdo desse tamanho. Que nada! E seu contrato? E sua conta bancária? Como tudo isso ficaria? Outros dizem que a Fórmula 1 é um esporte individual e não coletivo, portanto Rubinho foi violentado em seu comportamento, em sua forma de conduzir a máquina e a corrida. Meus amigos, como diria João Saldanha, Fórmula 1 não é esporte individual, nem coletivo, porque não é esporte. É experiência. Pesquisa tecnológica aplicada, como já dissemos. Imaginem que, se num campeonato estadual de futebol, aqui no Rio de Janeiro, houvesse, na mesma disputa, um time principal do Flamengo e outro de aspirantes, como se dizia antigamente e, da mesma forma, dois Vascos, dois Fluminenses, dois Botafogos e muito mais. Isso não funcionaria. Não seria competição esportiva; não seria nada.

João Saldanha estava mesmo certo! Ele jamais considerou a Fórmula 1 como esporte, mesmo nos tempos áureos de Nelson Piquet e Ayrton Senna. Uniforme de atleta com bordados de marcas multicoloridas e grifes diversas com vários patrocinadores não pode inspirar seriedade e a competição fica comprometida. Estava certíssimo o saudoso jornalista brasileiro, o realmente técnico. Michael Schumacher e Rubens Barriquello também foram iludidos, pensando que estavam numa equipe promotora de atividades esportivas. Seus contratos – e isso foi dito pelo próprio Rubinho – apresentam termos, pelo menos, contra tudo que se refere à ética esportiva... Deixar um colega de equipe ultrapassá-lo é o mesmo que entregar o jogo no dizer do jargão do futebol, para que outro time possa se tornar campeão. Não. Fórmula 1 não é esporte e não pode ser mais considerada competição séria nessa área. Algo para valer! Mas foi apresentada ao mundo como tal e, por isso, sofre hoje a repreensão de toda a crítica especializada, inclusive dos próprios torcedores da Ferrari.

O mal que esse episódio representou para todos os amantes do automobilismo puro como o de muitos anos atrás, mesmo para os torcedores da Ferrari, para os fãs de Schumacher, de Barriquello e de todos os azes do volante do mundo inteiro, de hoje e de ontem, foi incomensurável, porque abalou os alicerces daquilo que o verdadeiro esporte tem de mais significativo. E vejam que são coisas muito importante como a pureza, a honestidade e a competitividade, acima do bem e do mal. Mas tudo ficou abaixo da mediocridade, sobretudo com a decisão indecente dos dirigentes de uma Scuderie, ávida pelo sucesso a qualquer preço, perseguindo a vitória, às custas da dignidade que deveria envolver qualquer competição esportiva. Fórmula 1 não é, e nuca foi esporte. E as corrida de baratinhas?... Ah! Isso era outra coisa!

Agora, o texto impecável de Millôr Fernandes















Automobilismo


Como a humanidade é feita de patetas – exceto nós dois – babando diante de corrida de automóveis, foi fácil transformar um antigo e emocionante esporte numa papagaiada circense – circo vulgar e mercenário, pura máquina de fazer, e/ou lavar, dinheiro. O escândalo diante da constatação pública dos dois neurônios de Barrichello – e não muitos mais de Schumacher – só fez mostrar quantos tem o cara que vai pra arquibancada ver um zum-zum-zum que passa na sua frente, dentro do qual, o convenceram, vai o Schumacher ou ia o Senna.No auge do endeusamento do Senna eu dizia pros meus amigos, homens-feitos, pais de família!: "Que p... é essa? Vocês nunca viram o Senna correr. Viram Senna no boxe, ou Senna dentro do carro, quer dizer, um pedaço de capacete visto por trás, que pode ser de qualquer um. Isso na tevê. Ao vivo vêem apenas bólidos de brinquedo passando, enquanto, numa tela, numerinhos eletrônicos dizem que o herói João está um milésimo de segundo na frente do herói Joaquim. Vibração!". Mas houve um tempo. Me lembro de ir de automóvel – as estradas não eram como as de hoje, enfrentá-las, isso sim, era uma aventura – até São Paulo, nos primórdios de Interlagos, pra ver uma corrida ainda emocionante. Porque emocionante mesmo era, muito antes disso, a corrida da Niemeyer, com toda a razão chamada Trampolim do Diabo.Era o espetáculo. Você via passar, na sua frente, cara a cara, através dos anos, um Irineu Correia, um barão de Tefé, um Pintacuda, um Chico Landi. Em pessoa, não eletrônicos, e, vocês não vão acreditar, sem patrocinador.E você estava ali, junto, ocasionalmente protegido por meia dúzia de sacos de areia. Você também arriscava a vida. Espectador radical.No canal do Leblon, de repente, um carro explodia, voava – quem foi, Irineu Correia? – pruma fotografia impressionante que saía em página inteira no Diário da Noite, um jornal verde que tinha sete edições diárias. Radical, como esporte – e como jornalismo –, é isso aí, ô meus! Agora até a emoção dos acidentes é forjada – o herói vale muito dinheiro.
Na maior parte das derrapagens ou batidas não morre, nem mesmo se fere, ninguém. A proteção ao corredor é quase perfeita. No acidente com Piquet ele quase perdeu os pés porque essa parte do corpo é praticamente impossível de ser protegida. E o acidente com Senna foi... um acidente. Um pneu que sobe e cai sobre a cabeça do piloto. Não vai se repetir.Hoje morar em Viracopos, debaixo da ponte aérea, é mais radical do que pilotar uma Ferrari. E uma disputa de skate também é muito mais perigosa, portanto mais emocionante, do que qualquer Fórmula 1. Esteticamente, então, nem se fala.E skate você também vê com os próprios olhos, não precisa de eletrônica pra dizer quem foi o melhor. Nem precisa ler o contrato.



ATÉ A PRÓXIMA





1 de novembro de 2008

DIA NACIONAL DA LÍNGUA PORTUGUESA



DIA 5 DE NOVEMBRO

Lei Nº 11.310, de 12 de junho de 2006




Olavo Bilac










LÍNGUA PORTUGUESA

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre cascalhos vela,

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura !

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo !
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

OLAVO BILAC
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Conheçam um pouco mais a história da nossa língua. Um SITE interessante é:
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ATÉ A PRÓXIMA

29 de setembro de 2008

E N T R E V I S T A



ENTREVISTA DADA AO GRUPO DE ALUNAS DO ÚLTIMO SEMESTRE DA FACULDADE DE JORNALISMO, UNIMEP - PIRACICABA, SÃO PAULO. SÃO ELAS: ARIANE BELARDIN, PRISCILA SILVA, PRISCILA RODRIGUES, REGISNELE MELO E VIVIAM ALCALDE.









1- Como era a linguagem do jornalismo esportivo no início da televisão?

FEIJÓ - A televisão passou por grandes transformações tecnológicas, desde seu surgimento no Brasil, na década de 50, até hoje. Não surgiu como meio de comunicação de massa, evidentemente, pois, para isso, seria necessária a difusão instantânea do que veiculava. Não estava implantada ainda a rede de receptores como entendemos hoje. Mas isso foi uma conquista do meio que veio para ficar e se impor como a mais espetacular forma de disseminação da informação. O jornalismo esportivo surgiu na televisão como conseqüência de sucessivas formas de informação sobre quase tudo que interessava à sociedade. E a sociedade a que a televisão estava pronta para servir era a sociedade de consumo. Assim, o jornalismo esportivo perseguiu, podemos dizer, pacientemente as conquistas tecnológicas, para que as suas muitas e diversificadas informações pudessem sair da fonte emissora até atingir o seu público-alvo. A atuação desse jornalismo estava nas transmissões dos espetáculos, nos campos de jogos, principalmente do futebol, mas também no interior dos estúdios, com muitas mensagens críticas, além de outras tantas informativas, também. As chamadas “externas” (saídas de equipes de filmagem) eram complicadas. Uma parafernália de técnica eletrônica e gigantescos caminhões transformados em verdadeiros estúdios ambulantes faziam desse tipo específico de jornalismo uma atividade muito cara, difícil de ser realizado, além de requerer especialização de todos os setores envolvidos em sua preparação, mesmo porque sua linguagem deveria ser eminentemente visual, vindo a linguagem verbal a reboque, é claro, tudo muito diferente dos outros tipos de jornalismo. O “video-tape” revolucionou o jornalismo esportivo. O croma-key, dentro dos estúdios, deu às transmissões nova dimensão sígnica, isto é, nova linguagem, mais dinâmico, pois, então, o narrador tinha ao fundo o desenrolar dos acontecimentos, na visão final do observador. Isso perdura até hoje. É claro que muitos outros recursos eletrônicos, efeitos de toda ordem, aliados a uma transmissão digital, afastando-se totalmente da analógica, das fitas jurássicas de duas polegadas e dos “video-tapes” de uma e meia polegadas dão, hoje, uma nova dimensão visual ao jornalismo esportivo da televisão, tornando-o dinâmico, atraente e gostoso de ver. Basicamente a linguagem do jornalismo esportivo mudou, porque mudaram os signos que a construíam.

2- Como definiria a linguagem usada pelo GLOBO ESPORTE para informar os telespectadores?

FEIJÓ – A linguagem usada pelo programa esportivo de curta duração GLOBO ESPORTE é a verbal e não-verbal. Já o apresentador tem ao fundo o logotipo do programa. Isso ocorre por efeito especial de slide ou croma-key, ou por outra forma qualquer de tecnologia televisiva. Já o dinamismo dos jogos está sempre presente e a direção não deixa de colori-lo com inúmeras vinhetas de bom gosto e expressivas, dando ao conjunto uma forma visual atraente. Portanto, o GLOBO ESPORTE utiliza-se da linguagem verbal e não-verbal. A linguagem verbal usada deverá ser redundante, como em qualquer mídia de massa, sem ser estropiada. Com termos e expressões da linguagem especial do futebol. O GLOBO REPÓRTE realiza isso muito bem. As vinhetas de entrada são sempre dinâmicas As de saída são, geralmente, estáticas. Isso tem um sentido subliminar que vai conotar “pique” jornalístico, dinamismo, credibilidade, bom gosto, verdade. Em última palavra: excelência. E a GLOBO persegue a excelência sempre em tudo que faz. Se consegue é outra coisa. Mas, quase sempre, atinge seus objetivos, sim. Quando os apresentadores do programa GLOBO ESPORTE são enquadrados (e isso está sempre acontecendo – ora um, ora outro) estão sempre alegres, sorrindo. Lê-se: felizes. Se eles estão felizes, o programa deverá agradar e os telespectadores alcançarão essa felicidade, pois SER FELIZ É SINTONIZAR O CANAL DA GLOBO... As tecnologias de efeito dão ao programa a modernidade necessária para o aumento constante de audiência. Os quadros específicos e todas as matérias são apresentados sempre audiovisualmente. O programa trabalha muito com imagens de arquivo, o que dá credibilidade à apresentação. Como a TV Globo tem recursos suficientes para investir cada vez mais no visual do programa, pode-se esperar, enquanto sua audiência estiver estável, algumas mudanças e ajustes, nunca substanciais. O final, geralmente apresenta um quadro estático (algumas vezes dinâmico), sobre o qual sobem os caracteres bem rapidamente, dando para se ter uma idéia dos créditos da produção e da direção.

3- O uso de linguagens verbais e não verbais tem que sentido em uma notícia?

FEIJÓ – Se a notícia for relacionada a um fato esportivo, cujo desenrolar se dirige para a prática do dinâmico esporte do futebol, é claro que os signos não-verbais, como as imagens e figuras estáticas relacionadas aos clubes deverão se destacar, mesclando a notícia com a informação lingüística, portanto verbal. Agora, se a notícia for eminentemente informação sobre fatos, isto é, se a notícia for factual, a verbalização será inevitável e predominará, sem dúvida alguma. É claro que a linguagem não-verbal deverá sempre ressaltar a credibilidade da informação dada pela linguagem verbal. Ela, a linguagem não-verbal, deve ser atraente, sintonizada com o tema e bem editada para não cansar e/ou desviar a atenção do receptor para outras informações.

4- As notícias devem ser coletadas para causar no telespectador mais emoção ou informação?

FEIJÓ – Em televisão, parece-me que a informação deve sempre ser acompanhada de alguma emoção. Aliás, é a emoção que sustenta a audiência. A mensagem que informa alguém de alguma coisa é o resultado do envio de algo a alguém, cujo conteúdo deverá ser codificado com elementos sígnicos pelo emissor para um receptor, através de um canal. Agora, notícia, em Comunicação Social, é o tratamento ideológico dessa mensagem, dessa informação. Esse tratamento ideológico é comum nos veículos de comunicação de massa. Lá, qualquer mensagem que apareça será apresentada como notícia, isto é, um tratamento ideológico da informação. Logo, não devemos confundir, nessa área, INFORMAÇÃO com NOTÍCIA. Tratar ideologicamente uma informação é explicitar a principal característica da ideologia que é a ocultação da verdade ou a dissimulação dessa verdade, com inúmeros propósitos ou fins. Assim, causar emoção é necessário para entorpecer, muitas vezes, a verdade.

5- O que há de positivo ou negativo nisso?

FEIJÓ – De positivo, pode-se dizer que lucra o meio físico que transporta a mensagem porque surgirá uma aceleração social em todos os sentidos. As tecnologias da ilusão vão atuar nas principais funções dos “mass-media” que são: divertir, informar, formar (opinião), prestar serviços (comunitários) e vender. De negativo, citaremos a saturação (do código), a redundância (da mensagem), a alienação (do receptor) e a acomodação (do emissor). O que menos sofre é o canal, meio físico por onde a mensagem escoa. Pode-se até argumentar que o canal ao se desgastar, também se beneficia, porque há-de se procurar sempre uma forma nova de atualização tecnológica. Por exemplo, as transmissões do sinal da televisão são feitas por ondas de outro tipo de freqüência das do rádio. São em freqüências moduladas.

6- Que importância tem a imagem nesse tipo de jornalismo?

FEIJÓ – Creio que já comentei a importância da imagem nos programas esportivos da televisão, mas é sempre interessante acrescentar que a imagem possui um grau de baixa saturação de informação, isto é, que a imagem já traz a mensagem bem redundante, pronta para o receptor entender. A imagem é um meio frio de comunicação, segundo Marshall McLuhan.

7- Acredita que a informação do esporte se torna um espetáculo? Por quê?

FEIJÓ – Sim, acredito e é verdade! Porque levar os acontecimentos esportivos que se desenrolam dentro de um campo de futebol, por exemplo, para receptores anônimos, sem rosto, mas que existem, constituindo-se em audiência, só é possível através de uma forma espetacular, também, de se retratar o espetáculo. E isso acontece por dois tipos de linguagem: a verbal, basicamente nas transmissões radiofônicas, com a linguagem especial dos locutores, comentaristas e repórteres e com a linguagem mista, verbal e não-verbal da televisão.

8- O GLOBO ESPORTE usa na maioria das vezes, termos e expressões da gíria que, no jornalismo de outros gêneros, não aparecem. A linguagem verbal lá se torna mais fácil e com expressões popularmente brasileiras. Por que motivos?

FEIJÓ – Bem, os termos de gíria podem aparecer em muitos gêneros de jornalismo. No jornalismo dedicado a Economia, por exemplo, você pode encontrar termos e expressões que são usados somente nessa área, como “Barreiras não-tarifárias”, “Bens de capital”, “Petróleo tipo Brent”, “Monopsônio”, “Efiemizar”, “Valor agregado”, etc. Já a linguagem especial do futebol é mais conhecida do povo porque é muito ouvida no rádio e na Tv e aparece nos jornais e revistas em todo o Brasil. Está disseminada pelos diversos meios de comunicação de massa e é entendida por quase todo mundo. Migrou, também, para outros esportes e para a gíria da língua comum como, por exemplo, a expressão “Pendurar as chuteiras” que passou da gíria do futebol para o basquete, onde os jogadores não usam esse tipo de calçado. Passou até para a política, etc.

9- Por que a linguagem do comunicador esportiva é tão diferenciada?

FEIJÓ – Porque ela tem de ser o mais expressiva possível. Quero dizer com isso que a linguagem do comunicador, locutores, comentaristas, repórteres, editores de jornais esportivos e muitos outros, está repleta de criações vocabulares, dentro da deriva morfológica da língua portuguesa, com o objetivo principal de, em primeiro lugar, falar a língua do povão, seu público-alvo, e, em segundo lugar, para criar um marketing barato, onde ele será, muitas vezes, marcado por criações vocabulares suas. Cito como exemplo os comunicadores Washington Rodrigues com seus arquibaldos e Sívio Luís com os termos inusitados como azulejou, azeitou, biombo, rodapé, carrapeta e expressões do tipo azedou o molho, pelas barbas do profeta, atrás do toco etc.

10- Esse padrão cotidiano que o programa televisivo mantém pode gerar o quê de negativo? O que pode ser feito para melhorar?

FEIJÓ – Qualquer mensagem massiva, simples ou complexa, pela exposição no canal – o meio físico que sustenta a mensagem – vai sofre uma entropia natural do processo. Vai perder aquilo que o sustenta: a imprevisibilidade. Como essa imprevisibilidade quase não existe mesmo nas mensagens redundantes que são geradas pelos mass-media, a tendência do padrão de qualquer programa de televisão é cansar, perder sua força de impacto. A solução é um tratamento de combate a essa entropia, pela mudança, através de estudos para que a renovação ocorra dentro dos moldes técnicos da correção proposta pela Teoria da Comunicação Social. E uma das melhores formas para isso se realizar é através de trabalhos como esse que vocês estão realizando, através de entrevistas com pessoas do ramo. Esse trabalho como conheço e realizo em minhas aulas se chama ANÁLISE DE CONTEÚDO. Tenho finalmente a recomendar a vocês um pequeno livrinho, publicado há muito tempo pela ELDORADO, Rio de Janeiro, em 1973, tradução de Álvaro Cabral, chamado COMUNICAÇÃO DE MASSA: ANÁLISE DE CONTEÚDO, de Albert Kientz, cujo título original em francês é POUR ANALYSER LE MEDIA – L’ANALYSE DE CONTENU. É muito bom, mas acho que está esgotado, há muitos anos....Uma pena! É isso aí, gente! Felicidades!
Luiz César Saraiva Feijó
(Ex-professor de Linguagem Verbal e Não-verbal do Curso de Jornalismo da Universidade Federal Fluminense - Níterói - Rio de Janeiro)

18 de setembro de 2008

O -B e o -V, do latim para o português



O –B- e o –V-, DO LATIM PARA O PORTUGUÊS Um aluno me perguntou por que, em português dizemos imóvel para caracterizar uma casa, um apartamento ou qualquer construção sólida e lemos nos anúncios de corretoras frases do tipo: “Imobiliária Santa Cruz”. É claro que o que chama atenção é o uso do fonema /v/ em imóvel e do fonema /b/ em imobiliária. Vejamos as origens desses nomes.Imóvel é um adjetivo que significa “bem fixo, que não se pode transportar”. Por extensão, “qualquer edificação”. Então, uma casa, um apartamento, por exemplo, é um imóvel. Agora, com o sentido de coisa fixa, deixando de ser adjetivo para se transformar em substantivo (esse tipo de formação de palavra com mudança de classe gramatical, sem acréscimo ou supressão de sufixo, deixando de ser, no caso, adjetivo para ser substantivo, se chama CONVERSÃO). Sua origem é latina: immobilis,e (adjetivo de 2ª classe, declinado pela 3ª declinação). Isso ocorreu porque, na passagem do latim para o português, o –b intervocálico passou a –v. Ex. debet > deve; fabam > fava; habere > haver; nubem > nuvem.Mas, em português, nem todo –v provem de um –b latino. O –f intervocálico latino deu –v em português. Ex. aurificem > ourives; defensam > devesa (alameda ou arvoredo que circunda um terreno; campo fértil à margem de um rio); profectum > proveito; Stephanum( aqui ph corresponde ao fonema /f/) > Estêvão.Já a palavra imobiliária (mesmo radical latino de immobilis) é um substantivo feminino que significa “empresa que constrói, negocia com imóveis e/ou administra seu aluguel”. A origem feminina desse substantivo está relacionada ao adjetivo imobiliário, “relativo a imóvel ou edificação”.Isso também é válido para o castelhano.As fontes são as mais sérias possíveis: Edwin B. Williams e J. Corominas. Meu aluno, algum tempo depois, me enviou um folheto fazendo propaganda de uns apartamentos maravilhosos que ele e sua empresa estavam vendendo. Era do ramo e me oferecia magníficas residências, lindas, maravilhosas, mas caríssimas, esquecendo-se de que eu continuava professor...
ATÉ BREVE.

TRATAMENTO IDEOLÓGICO DA INFORMAÇÃO






O texto:

COMO NASCE UMA NOTÍCIA...

“Dois menininhos estavam saindo do Morumbi quando um deles foi atacado porum Rottweiler feroz. O outro menino imediatamente pegou um pedaço de pau e deu na cabeça docachorro, fazendo com que o cão caísse morto e o amiguinho ficasse apenas com alguns arranhões. Ao ver a cena, um repórter que passava correu para ser o primeiro a cobrira fantástica história. Pensou em voz alta:

- Já estou até vendo a manchete: 'Jovem são- paulino salva amigo de animal feroz!'

-Mas, eu não sou são-paulino. Disse o menino.

- Me desculpe, apenas presumi que fosse, já que estamos na saída doMorumbi. Então, vou escrever: 'Bravo pequeno palmeirense evita tragédia com amigo !'

- Mas, eu também não sou palmeirense. Disse novamente o menino.

- Ok, então: 'Pequenino santista vira herói !'

- Não sou santista, moço.

- Mas, a final, pra que time você torce?

- Sou corinthiano!!!

E o repórter escreve em seu caderninho:

- Delinqüente corinthiano mata brutalmente adorável animal doméstico!

(INTERNET)



A mensagem que pode informar alguém de alguma coisa é o resultado do envio de algo a alguém, cujo conteúdo deverá ser codificado com elementos sígnicos pelo emissor para um receptor, através de um canal. Agora, notícia, em Comunicação Social, é o tratamento ideológico dessa mensagem, dessa informação. Esse tratamento ideológico é comum nos veículos de comunicação de massa. Lá, qualquer mensagem que apareça nos noticiários dos jornais ou nos comentários analíticos, tudo, enfim, que chamamos notícia será sempre tratado ideologicamente. Logo, não devemos confundir, nessa área, INFORMAÇÃO com NOTÍCIA. Tratar ideologicamente uma informação é explicitar a principal característica da ideologia que é a ocultação da verdade ou a dissimulação dessa verdade, com inúmeros propósitos ou fins. No texto anedótico acima, caracterizado de humor como riso, a nosso juízo, pode-se perceber que o fato ideológico é a perpetuação de um estigma que acompanha a história do Esporte Clube Corinthians. Isso é conseguido através da distorção da verdade, contida na pretensa informação ou fato primitivo (a paulada do menino no cão para salvar o pobre coitado). Dissemos que se trata de um texto de humor como riso, explicitando o cômico, porque se trata, entre outras coisas, de uma crítica aos representantes da cultura comunitária, no caso, os torcedores de um dos maiores clubes de futebol do Brasil. Tentando recordar a função do riso, lembramos que a principal é a de delimitar o RIDÍCULO e assim, justificar o perigoso, preparando o seu expurgo. Logo, trata-se de uma REPRESSÃO utilizada pelos textos, quase sempre nos meios de comunicação de massa que provocam o riso, trabalhando aí com uma função chamada de METACENSURA.

ATÈ A PRÒXIMA


8 de setembro de 2008

CENTENÁRIO DA MORTE DE ARTUR AZEVEDO


Celebra-se este ano o primeiro centenário da morte de Artur Azevedo. O professor Dr. Antônio Martins Araújo, presidente da Academia Brasileira de Filologia, especialista na obra do grande escritor maranhense, encontra-se no Maranhão, desde o mês de julho, participando, entre outros eventos culturais, da 4ª Edição do Festival GEIA de Literatura, na cidade de São José de Ribamar.

O evento aconteceu entre os dias 27 e 29 de agosto deste ano de 2008. No dia 28, o nosso presidente da ABF proferiu palestra sobre o tema: Artur Azevedo para crianças.

Estão todos de parabéns, a Academia Brasileira de Filologia e a “Atenas Brasileira”, que hoje (8 de setembro) completa 396 anos.




ATÉ A PRÓXIMA.




5 de setembro de 2008








O Novo Acordo Ortográfico

da Língua Portuguesa


1) O alfabeto agora é formado por 26 letras.


O "k", "w" e "y" não eram consideradas letras do nosso alfabeto.


Essas letras serão usadas em siglas, símbolos, nomes próprios, palavras estrangeiras e seus derivados. Exemplos: km, watt, Byron, byroniano


2)
O Trema


Não existe mais o trema em língua portuguesa. Apenas em casos de nomes próprios e seus derivados, por exemplo: Müller, mülleriano.


As palavras abaixo não serão mais escritas com trema:


agüentar, conseqüência, cinqüenta, qüinqüênio, frqüência, freqüente, eloqüência, eloqüente, argüição, delinqüir, pingüim, tranqüilo, lingüiça

Serão escritas sem trema:


aguentar, consequência, cinquenta, quinquênio, frequência, frequente, eloquência, eloquente, arguição, delinquir, pinguim, tranquilo, linguiça.


3)
A Acentuação Gráfica


A) Os ditongos abertos (ei, oi) não são mais acentuados em palavras paroxítonas como anteriormente eram, como assembléia, platéia, idéia, colméia, boléia, panacéia, Coréia, hebréia, bóia, paranóia, jibóia, apóio, heróico, paranóico


Passarão a ser grafados sem o assento agudo, assim: assembleia, plateia, ideia, colmeia, boleia, panaceia, Coreia, hebreia, boia, paranoia, jiboia, apoio, heroico, paranoico


Mas, prestem atenção. Os ditongos abertos de palavras oxítonas e monossílabas o acento continua. Assim: herói, constrói, dói, anéis, papéis.


Também continua o acento agudo no ditongo aberto "eu". Assim: chapéu, véu, céu, ilhéu.

B) O hiato "o-o" não é mais acentuado, como antigamente era: enjôo, vôo, corôo, perdôo, côo, môo, abençôo, povôo. Essas palavras passam a ser grafadas assim: enjoo, voo, coroo, perdoo, coo, moo, abençoo, povoo.


D) O hiato "e-e" não é mais acentuado, como antigamente era: crêem, dêem, lêem, vêem, descrêem, relêem, revêem. Essas formas verbais dos verbo CRER, DAR, LER e VER passam a ser grafadas assim: creem, deem, leem, veem, descreem, releem, reveem.

E) Não existe mais o acento diferencial de intensidade nas palavras homógrafas
pára (verbo), péla (substantivo e verbo), pêlo (substantivo), pêra (substantivo), péra (substantivo), pólo (substantivo), como antigamente existia. Essas palavras passam a ser escritas assim: para (verbo), para (preposição); pela (substantivo e verbo), pelo (substantivo), pera (substantivo), pera (substantivo), polo (substantivo).
Observação: o acento diferencial de timbre ainda permanece no verbo "poder" (3ª pessoa do Pretérito Perfeito do Indicativo - "pôde") e o diferencial de intensidade, no verbo "pôr", para diferenciar da preposição "por".

F) Não se acentua mais a letra "u" nas formas verbais rizotônicas (o acento tônico cai no radical), quando precedido de "g" ou "q" e antes de "e" ou "i" (gue, que, gui, qui), como antigamente era: argúi, apazigúe, averigúe, enxagúe, enxagúemos, obliqúe. Essas palavras passam a ser grafadas assim: argui, apazigue,averigue, enxague, enxaguemos, oblique.


G) Não se acentua mais "i" e "u" tônicos em palavras paroxítonas quando precedidos de ditongo, como antigamente era: baiúca, boiúna, cheiínho, saiínha, feiúra, feiúme. Essas palavras passam a ser grafadas assim: baiuca, boiuna, cheiinho, saiinha, feiura, feiume.


4)
O Hífen


A) O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por "r" ou "s", como acontecia, por exemplo, em ante-sala, ante-sacristia, auto-retrato, anti-social, anti-rugas, arqui-romântico, arqui-rivalidae, auto-regulamentação, auto-sugestão, contra-senso, contra-regra, contra-senha, extra-regimento, extra-sístole, extra-seco, infra-som, ultra-sonografia, semi-real, semi-sintético, supra-renal, supra-sensível. Essas palavras passam a ser grafadas com 2 -s- e com 2 -r-, assim: antessala, antessacristia, autorretrato, antissocial, antirrugas, arquirromântico, arquirrivalidade, autorregulamentação, contrassenha, extrarregimento, extrassístole, extrasseco, infrassom, inrarrenal, ultrarromântico, ultrassonografia, suprarrenal, suprassensível.


Observação: em prefixos terminados por "r", permanece o hífen se a palavra seguinte for iniciada pela mesma letra: hiper-realista, hiper-requintado, hiper-requisitado, inter-racial, inter-regional, inter-relação, super-racional, super-realista, super-resistente etc.

B) O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por outra vogal, como antigamente ocorria, por exemplo em auto-afirmação, auto-ajuda, auto-aprendizagem, auto-escola, auto-estrada, auto-instrução, contra-exemplo, contra-indicação, contra-ordem, extra-escolar, extra-oficial, infra-estrutura, intra-ocular, intra-uterino, neo-expressionista, neo-imperialista, semi-aberto, semi-árido, semi-automático, semi-embriagado, semi-obscuridade, supra-ocular, ultra-elevado. Essas palavras passam a ser grafadas assim: autoafirmação, autoajuda, autoaprendizabem, autoescola, autoestrada, autoinstrução, contraexemplo, contraindicação, contraordem, extraescolar, extraoficial, infraestrutura, intraocular, intrauterino, neoexpressionista, neoimperialista, semiaberto, semiautomático, semiárido, semiembriagado, semiobscuridade, supraocular, ultraelevado.


Observação 1: esta nova regra vai uniformizar algumas exceções já existentes antes: antiaéreo, antiamericano, socioeconômico etc.


Observação 2: esta regra não se encaixa quando a palavra seguinte iniciar por "h": anti-herói, anti-higiênico, extra-humano, semi-herbáceo etc.

C) Agora utiliza-se hífen quando a palavra é formada por um prefixo (ou falso prefixo) terminado em vogal + palavra iniciada pela mesma vogal. Assim: anti-ibérico, anti-inflamatório, anti-inflacionário, anti-imperialista, arqui-inimigo, arqui-irmandade, micro-ondas, micro-ônibus, micro-orgânico. Antigamente, essas palavras não possuiam hífen, era tudo junto.


Observação 1: esta regra foi alterada por conta da regra anterior: prefixo termina com vogal + palavra inicia com vogal diferente = não tem hífen; prefixo termina com vogal + palavra inicia com mesma vogal = com hífen.


Observação 2: uma exceção é o prefixo "co". Mesmo se a outra palavra iniciar com a vogal "o", NÃO se utliza o hífen. Ex. Coautoria, coopositor.

D) Não se usa mais hífen em compostos que, pelo uso, perdeu-se a noção de composição, como, por exemplo em manda-chuva, pára-quedas, pára-quedista, pára-lama, pára-brisa, pára-choque, pára-vento. Agora, essas palavras serão grafadas assim: mandachuva, paraquedas, paraquedista, paralama, parabrisa, parachoque, paravento.


Observação: o uso do hífen permanece em palavras compostas que não contêm elemento de ligação e constiui unidade sintagmática e semântica, mantendo o acento próprio, bem como naquelas que designam espécies botânicas e zoológicas: ano-luz, azul-escuro, médico-cirurgião, conta-gotas, guarda-chuva, segunda-feira, tenente-coronel, beija-flor, couve-flor, erva-doce, mal-me-quer, bem-te-vi etc.

Observações Gerais

O uso do hífen permanece:


A) Em palavras formadas por prefixos "ex", "vice", "soto". Ex. ex-marido, vice-presidente, soto-mestre.


B) Em palavras formadas por prefixos "circum" e "pan" + palavras iniciadas em vogal, M ou N. Ex. pan-americano, circum-navegação.


C) Em palavras formadas com prefixos "pré", "pró" e "pós" + palavras que tem significado próprio. Ex. pré-natal, pró-desarmamento, pós-graduação.


D) Em palavras formadas pelas palavras "além", "aquém", "recém", "sem". Ex. além-mar, além-fronteiras, aquém-oceano, recém-nascidos, recém-casados, sem-número, sem-teto.

Finalizando. Não existe mais hífen:


Em locuções de qualquer tipo (substantivas, adjetivas, pronominais, verbais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais). Ex. cão de guarda, fim de semana, café com leite, pão de mel, sala de jantar, cartão de visita, cor de vinho, à vontade, abaixo de, acerca de etc.


EXCEÇÕES


Água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao-deus-dará, à queima-roupa.

22 de agosto de 2008

FILÓLOGO LANÇA NOVO LIVRO


Carlos Eduardo Falcão Uchôa, Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense e da Academia Brasileira de Filologia, acaba de lançar, pela Editora Nova Fronteira/Lucerna, o livro
A linguagem: teoria, ensino e historiografia.

A obra reúne doze ensaios publicados pelo autor, nos últimos anos, em periódicos, miscelâneas e em capítulos de livros. A maioria deles traduz preocupação com o ensino da língua.

O Professor Carlos Eduardo Falcão Uchôa foi, na década de 1980, o criador da linha de pesquisa A Lingüística e o ensino de Português, no Programa de Pós-graduação da Universidade Federal Fluminense.

Assim, a variação lingüística, a produção textual, leituras sobre a gramática, inúmeros conteúdos programáticos da disciplina Língua Portuguesa nos níveis fundamental e médio são objeto de reflexão, tanto sobre práticas pedagógicas correntes, quanto sobre novos caminhos a serem adotados nas salas de aula, com vista a uma orientação lingüístico-pedagógica segura e eficiente.

Dois ensaios focalizam a institucionalização da Lingüística como disciplina dos nossos Cursos de Letras e a sua fixação como o estudo científico da língua.

Tece, também, considerações sobre a relação entre Filologia e Lingüística no campo do estudo da linguagem em nosso país, mostrando, ainda, o relevante papel desempenhado por Mattoso Câmara, para que a Lingüística viesse a ter, enfim, um lugar de destaque, no cenário acadêmico brasileiro.
Trata-se de uma obra para o professor que atua na área de Letras adquirir, ler, refletir e recomendar.
Até a próxina
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8 de julho de 2008

A VIDA E O LUGAR DO AMOR NO TEMPO



Uma recensão do livro FUGIR

Por: Luiz Cesar Saraiva Feijó


O romance de Jean-Philippe Toussaint, FUGIR (FUIR), prêmio europeu Medici de 2005, foi publicado por Les Éditions de Minuit, Paris, em 2005. É uma ação passada num verão qualquer da atualidade, em três momentos, com curtos blocos distintos dentro de cada uma das três partes da obra. Isso tem um significado interessante, pois dá ao leitor a sensação de estar recebendo informações significativas a todo instante sem a angústia de esperar um desfecho, mas excitando-se sempre, pois a forma de tratar o tema é a de um vai-e-vem enunciativo que cria imagens impactantes, fortes e poéticas. O crítico Jacques-Pierre Amette já dissera, aliás na quarta-de-capa da primeira edição (Lés Éditions de Minuit,7,rue Bernard-Palissy, 75006, Paris), que “o romance apresenta um verdadeiro estilo toussaint, na forma, no rigor, na pontuação, na psicologia: tudo perfeito”.
O autor, com esse estilo vibrante, com suas frases fracionadas entre o discurso indireto e indireto-livre, predominando a justaposição e a coordenação sobre a subordinação, apresenta uma narrativa diferente, uma forma atraente e inovadora de se dizer algo, de se contar algo, de se transmitir uma informação. Inicia-se, aí, portanto, o predomínio da conotação sobre a denotação, dando ao texto um caráter literário, sem, contudo, deixar de estabelecer com a realidade um vínculo de verossimilhança. Junta-se a isso tudo um ritmo exótico, marcado por uma pontuação sui-generis. Nesse romance, Jean-Philippe Toussaint desenvolve o tema do amor, da angústia e da paixão com um texto misto de referencialidade e prosa poética, especialmente caracterizada por um impressionismo lingüístico, repleto de languidez nos sintagmas que estruturam os períodos, muitas vezes envolvido pela linguagem difusa das metáforas e hipálages, em tempos e lugares diferentes. Em muitos momentos, o enunciado se apresenta colorido com as luzes verdes e azuis das lanternas chinesas e das composições ferroviárias, com as luminárias dos vagões e dos sinalizadores da linha férrea, faiscando de sentimentos. A enunciação prepara o texto, que fala da referencialidade factual. Uma inovadora forma de se referir aos objetos envolve as personagens e, psicologicamente, prepara o leitor para ficar sempre preocupado com o desfecho da trama. O tempo do romance também contribui para isso. Esse tempo distribuído em espaços diferentes dá ao leitor a sensação de estar próximo de um texto épico, não faltando para isso o ambiente grego da ilha de Elba. Construído por formas verbais oscilantes, o romance flui entre a hipótese e a realidade, iniciando a Parte I com a onisciência da primeira pessoa, que narra, no pretérito e no presente, os acontecimentos do verão, tempo em que vive Maria, numa Paris moderna, contrastando com uma Xangai quase caricata, de onde o personagem-narrador fala com ela, por telefone celular. A chegada do narrador a Xangai, mostra-nos a realidade de uma Chima, captada mais pela sensibilidade poética do autor (sem preconceitos), do que pelas reflexões sobre a realidade oriental, sempre postas em confronto com a européia. Aliás, estão nesses casos a descrição das estações chinesas de trem, hotéis, bares, mercado e comércio do entorno das grandes avenidas de Xangai, numa narrativa de sugestões e impressões, tudo impregnado por uma antítese penumbrista, tudo tão luminoso quanto opaco, levando-nos ao suspense, que é outra forma utilizada, para prender a atenção do leitor. Mas a sensibilidade do autor também capta a deterioração das partes da cidade menos favorecidas, numa linguagem característica do mais significativo estilo realista (“para entrarmos num velho edifício de tijolo aparente, onde, numa penumbra macilenta, vagueavam cheiros peçonhentos de couve rançosa e de mijo”). A minúcia e o detalhismo também são comuns e aparecem, principalmente, nas Partes I e II, em inúmeras passagens exemplificativas. Parece, ainda, que o suspense, como se observa no início da Parte I (“o meu passaporte vendo-o passar de mão em mão temendo vê-lo subitamente desaparecer como num conto do vigário entre as mãos de um dos inúmeros funcionários atarefados por detrás do balcão”), se alimenta de uma série de descrições minuciosas de figuras humanas e de ambientes, onde a luminiscência continua a impressionar o autor e as cores dos neóns chamam, amiúde, sua atenção para manter o leitor na linha do encontro da solução do emaranhado construído pela enunciação.
Na composição da textura da linguagem de Jean-Philippe Toussaint , observa-se a utilização de um estilo elíptico, caracterizado por cancelamentos sintáticos, o que imprime rapidez na leitura, ao mesmo tempo que proporciona reflexão, pois o leitor não acostumado a essa técnica de escrituração, medita instintivamente sobre os acontecimentos para se dar conta do que lhe é narrado. Esse estilo e o discurso indireto livre são, como já dissemos, mais uma criação estilística da forma toussaintliana de narrar. (“A confusão era completa (começava a me sentir mal). Maria?” ).
No menor bloco do romance, localizado na Parte I do romance, autor como narrador, traz o suspense à cena, pois o que importa é saber o que vai acontecer com Maria ou com o relacionamento dele com ela. Depois, não há mais nenhum pequeno bloco com esse objetivo.
Uma outra técnica narrativa é a modo de afirmar, interrogando, como que num diálogo com o leitor. O narrador, pergunta ao leitor alguma coisa e diz o que o leitor precisa saber para entender a seqüência dos acontecimentos, sem nenhum diálogo com qualquer outra personagem: (“...não tinha nada de particular para fazer em Xangai. Não é verdade?”).
O romance FUGIR, de Jean-Philippe, em suas três partes, apresenta bem focadamente, em cada uma delas, respectivamente, a precipitação do erotismo, a fuga explícita e a explosão do amor no mar. O erotismo surge de forma pretendida, camuflada algumas vezes, outras mais acentuada, mas nunca explicitamente acontecida, sempre em lugares e tempo diversos. O erotismo está diluído na forma mais simples de um terno sentimento de desejo: “e percebi que alguma coisa de terno estava nascendo”. Ou, ainda, em: “aproximei-me dela e desajeitadamente no meio da multidão dei-lhe um beijo, com uma timidez confusa, que me perturbou e por causa disso nossos olhares se cruzaram um instante e os nossos lábios não tão por acaso se roçaram”. Mas esse desejo vai crescendo até tomar outros caminhos, numa linguagem que sustenta muitas emoções, até ser interrompido pela presença de Maria, contraponto direto e significante, impeditivo da plena consumação amorosa entre o narrador e Li Qi, porque ela, Maria, é o ponto de partida e a chegada dessa fuga proposta por Toussaint.
O suspense é anterior ao erotismo. Prepara o prazer, pois causa a ansiedade que precipita a expectativa do relacionamento carnal. Contudo, se esse preparo existe, o desfecho da relação sexual se interrompe, justamente pelos acontecimentos misteriosos e paira sobre a ação uma sensação de que, a qualquer momento, uma tragédia se abaterá sobre os dois envolvidos no jogo de amor, num vagão do trem, por exemplo, onde “uma das portas de passagem entre os vagões tinha sido partida, há pouco sem dúvida, estilhaços de vidro cobriam o chão do corredor e vestígios de sangue seco estrelavam a parede, uma mancha maior, central, e milhares de gotinhas secas à volta, minúsculas, mineralizadas, duma cor vermelho acastanhada”.
A fuga na moto indiabrada que se movimenta pelas ruas fervilhantes e perigosas de Pequim, na Parte II do romance, antecedida por um preâmbulo de minuciosas descrições de locais e situações, prende o leitor e desencadeia enorme tensão. É um momento muito significativo, onde a fuga se consubstancia denotativamente. Esse momento significativo do romance se precipitará, na terceira e última Parte, a explosão do amor no mar, formando um bloco de significações distintas, dando ao texto de Toussaint uma linguagem especial, isto é, uma relevância significativa na literatura da modernidade européia. Nessa terceira e última parte do romance o autor envolve o texto poético num suspense amargurante, sem dar pistas do desenlace, deixando-nos uma dúvida angustiosa, sempre entre um final feliz ou uma tragédia no mar. A opção vem em favor do amor e da vida... “et Marie pleurait dans mes bras, dans mes baisers, elle pleurait dans la mer”... e Maria chorava nos meus braços, nos meus beijos, chorava no mar.
Portanto, nesse livro, a vida como tragédia, sempre por acontecer, quer no toque de um celular, quer nas braçadas de Maria, ao entardecer, desaparecendo por trás das rochas, nadando no mar, traz uma reflexão sobre a vida e o lugar do amor no tempo. Estilo e formas especiais da narrativa que Jean-Philippe Toussaint nos mostra nesse romance publicado agora, em junho de 2008, pela Bertrand-Brasil, tradução de Joaquim Pinto da Silva.

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.