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21 de dezembro de 2007

LUDOPEDURSOFILIA



Essas máquinas de aparência inocente, instaladas em todos os centros de entretenimento infantil nos shoppings das cidades, são, na realidade, máquinas caça-níqueis. Máquinas de jogar, programadas para nunca perder: um jogo desleal (LUDOS). Deveria o seu uso ser motivo de um estudo detalhado por parte das autoridades responsáveis pela liberação do alvará de funcionamento desses estabelecimentos que alegram os minutos de vida de muitas crianças (PEDOS) e entristecem o bolso dos papais, mamães, vovós, vovôs, titios e titias... Nesses locais onde estão instaladas, crianças de pouca idade, o que vale dizer de pouca ou quase nenhuma coordenação motora, tentam apanhar o tão sonhado e ilusório objeto de seu desejo: o ursinho (URSO) de pelúcia. O funcionamento daquela parafernália, com ganchos, botões, manivelas, sons e engrenagens dura somente alguns segundos. A criança ainda sem coordenação motora perde seguidamente a oportunidade de pegar o brinde e o bolso do papai perde seguidamente dois reais a cada dez segundos. Então, parece-nos que estamos diante de um jogo de azar, onde as chances são mínimas e o lucro é certo, numa programação extorsiva. As crianças adoram e se relacionam com aquela magia colorida, identificando-se como amiguinhas (FILIA) dos fofos bonequinhos. Que adultos tentem fisgar o ursinho, testando a sua habilidade em coordenar seus movimentos, sua motricidade muscular, tudo bem. Mas crianças, de pouca idade, não poderiam tentar esses movimentos, pois estão, a priori, destinadas ao fracasso. E a frustração deixada numa cabecinha inocente, a nosso juízo, deixa seqüelas psicológicas ainda não estudadas pela psicologia infantil e nada consta ainda na literatura específica, a respeito dessa forma mascarada de contravenção. Isso é um absurdo que deve ser reprimido por quem de direito. Minha neta de oito anos gastou, em menos de trinta segundos, seis reais, tentando agarrar os bichinhos de pelúcia vestidos de papai-noel, num shopping da cidade onde passa férias comigo. Chamei a responsável pelo setor, disse-lhe tudo isso que coloco aqui neste desabafo e me dirigi à Ouvidoria do Ministério Público da cidade, para formalizar minha indignação e pedir providências a respeito. Pelo menos, depois disso, sinto-me mais aliviado, pois fiz a minha parte, como cidadão, alertando as autoridades para um tipo mafioso de ganho fácil, explorando a inocência infantil. Que nome teria isso? Digamos, num desabafo lingüístico, um baita neologismo já, de certa forma anunciado acima: LUDOPEDURSOFILIA

17 de dezembro de 2007

LISBOA, 31 DE DEZEMBRO


O fim do ano está chegando. Lembro-me da primeira vez que estive em Portugal. Foi em dezembro de 88. Fazia muito frio em Lisboa, pelo menos para um carioca que deixara o Rio de Janeiro com 40 graus, à sombra. Eu agasalhava a idéia de passar a virada do ano numa típica casa portuguesa, gozando da hospitalidade lusitana e das delícias das comidas típicas. Talvez, quem sabe, numa grande praça ou num iluminado sítio, como via pela televisão os cenários de rua em Paris, Nova Iorque, Londres ou Copacabana. Não era querer muito, creio, mas onde iria cear, se não tinha nenhum parente ou casa de amigo em Lisboa?


Estávamos hospedados em uma pensão, com todos os apartamentos ocupados. Casa cheia, minha gente! O Sr. Manoel tratava-me com toda gentileza, não fôramos eu e minha esposa indicados por Sílvio Elia, um dos mais ilustres professores de lingüística do Brasil e freqüentador assíduo da boa pensão da rua Castilho.

Lá pelas quinze horas fomos, ansiosos e felizes, para o Rossio, na tentativa de encontrarmos algum recanto gastronômico, à espera da contagem regressiva para a chegada de mais um ano, que bem poderia ser, pelo menos, tão bom quanto o que estava preste a acabar. Mas essa coisa de ver o futuro é com os magos que sempre dizem as maiores bobagens... e muita gente acredita.

Não encontramos nada de especial. Nada, mesmo. As casas do comércio estavam a fechar e todos queriam ir embora para casa. Consegui comprar um champanhe francês, a muito custo, explicando-me com o vendedor, muito mal humorado. Bem, à meia-noite faremos nossa festa particular, pensei. Não havia outro jeito.

Mas eis que avistei um aglomerado à porta de um restaurante, parecendo a entrada de uma festa. Aproximamo-nos, observamos bem, analisamos os prós e os contras, bati no bolso para constatar se tinha mesmo dinheiro e entramos.

Sentamos numa pequena mesa quadrada e pedimos duas sopas de santola.
- O senhor não pode abri o champanhe. São ordens da casa, a não ser que pague três mil escudos.

Escutei estarrecido e seco de raiva, mas como já estava no clima, aceitei a prática, que no Brasil se chama PAGAR ROLHA. Ao lado, um grupo de dinamarqueses festejava tola e ruidosamente o fim de mais um ano. Alemãs, italianos, polacos, todos com bandeirinhas de seus países numa das mãos e na outra antipáticos reco-recos. Conseguiam, ainda, soprar estúpidos apitos, numa barulheira ensurdecedora, achando aquilo tudo muito agradável. Eu estava, obviamente, aborrecidíssimo. Só pensava na cascata de fogos da Avenida Atlântica, os orixás marcando os pontos, todos de branco nas areias de Copacabana. Pensava na contagem regressiva para a inebriante iluminação da maçã de Nova Iorque. Pensava nos baile de máscara, nas avenidas iluminadas e repletas de Paris... E nós ali, naquele cubículo caríssimo, comendo pouco, porque a “grana” era curta, lamentando a infeliz idéia de sairmos para o Rossio.

Apertei, com educado cumprimento, as mãos de muita gente loira, falando línguas completamente diferentes, disse algumas besteiras, paguei a conta e fui.


Na porta da pensão Castilho recebi um efusivo abraço de felicitações pela passagem de ano, dado pelo Sr. Manoel, que estava preocupado com a nossa ausência ao jantar servido a todos os hóspedes, que já tinham se recolhido. Tudo por conta da casa.


O velho Sr. Manoel, percebendo em nosso olhar a grande decepção, pois os restos do banquete ainda faziam água na boca, fez questão de nos levar para a copa, onde nos serviu uma das melhores ceias dos últimos tempos. Com bate-papo, conversa fiada, piadas e tudo que tínhamos direito. Não se fazem mais hoteleiros como antigamente... Soube, há pouco tempo, que a pensão Castilho não existe mais.
Até a próxima!

12 de dezembro de 2007

UM DOCE DE NATAL




Está chegando o Natal desse ano do Senhor de 2007. As festas natalinas vão acontecer em milhares e milhares de residências cristãs e serão servidos os mais saborosos e tradicionais quitutes. Entre os que eu aprecio está a RABANADA. No Brasil é por esse nome que conhecemos aquela deliciosa fatia de pão dormido, embebida em leite, passada no ovo, frita e servida com açúcar e canela. Mas em Portugal, ela se chama também fatia dourada, mãe-parida e fatia-de-parida. Interessante! O alimento deve ter sido apreciado, pela sua alta carga de gordura saturada, por parturientes, talvez para que ficassem mais bem alimentadas. Daí MÃE-PARIDA. Em FATIA-DE-PARIDA, a mulher que deu à luz deu, também, o nome ao alimento. O próprio alimento fatiado passaria a ser o prato que alimentaria aquela que pariu. FATIA DOURADA é um nome bem referencial, denotativo, pois o pão é fatiado, daí FATIA e a fatia depois de frita fica DOURADA. Já RABANADA vem de rábano + ada. O rábano é uma raiz usada em saladas e o fato de o pão ser fatiado como se faz com a raiz, deu nome ao doce natalino. Em espanhol, REBANADA é fatia de pão, entretanto, a rabanada de Natal, em espanhol, chama-se TORRIJA.
Rabanada, ainda, pode ser pancada (rabo + abanada) e também pé-de-vento. Nesse sentido, vem do malaio rabana, espécie de atabales ou tambores.

Agora, só tenho a desejar a vocês uma ótima ceia de Natal, com um prato cheio de rabanadas, ou nães-paridas ou fatias-de-parida. Observaram o plural dessas coisas gostosas?

Até a próxima!

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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.