Quantos me visitaram ?

22 de março de 2007

CAPITÃO-DO-MATO

Mais uma crônica de LUIZ CESAR SARAIVA FEIJÓ, publicada no jornal português


, Porto. Ela também aparece no seu livro UMA FLOR AMARELA.



Viajar pelos Campos Gerais do sudeste paranaense é reencontrar as trilhas dos bandeirantes e tropeiros portugueses que nos deixaram, juntamente com os índios, traços de uma cultura peculiar, cujas marcas podem ser apreciadas, até hoje, nos costumes do povo dessa região, nos nomes de rios, serras, vilarejos e cidades.

Num domingo de sol fraco e muitas nuvens ameaçadoras resolvi, para matar o tempo, visitar a cidade de Castro, distante uns 150 quilômetros de Curitiba. Sabia que num fim de semana com céu cinzento e chuva fina iria encontrar a cidade praticamente vazia. Mas isso seria muito bom para meus propósitos. Indicaram-me o Museu do Tropeiro para satisfazer minha curiosidade sobre a história da antiga Freguesia de Sant’Ana do Iapó, dos idos do século XVIII.

A simplicidade e a simpatia do encarregado do museu foram fundamentais para que eu pudesse perguntar sobre tudo, ficando muito à vontade para passar de um assunto a outro, verificando sempre que o Sr. João Monteiro de Souza estava bem preparado para responder às minhas mais minuciosas perguntas, até sobre as origens da toponímia regional. Aliás, iapó significa pântano, em tupi, justificando os diversos e encantadores recantos da cidade, aproveitados como parques de laser. O rio alaga as margens protegidas pelas matas ciliares, repletas de pássaros e flores coloridos, fazendo nossa imaginação percorrer os séculos. Visualiza-se, então, o relvado da várzea, onde os aventureiros colonos portugueses e capitães-do-mato, com suas capas pretas e arcabuz na mão, contemplam o mar de araucárias e a revoada de garças e gralhas azuis no céu nacarado. Estão prestes a instalar nestas paragens, definitivamente, um paraíso. E todos trabalharam para isso. Mas como doeu! Quantas vidas foram sacrificadas! Como o poder e a natureza mexeram com a mente desses homens! Extensas sesmarias, maiores que muitas cidades européias atuais, foram requeridas à Coroa Portuguesa e doadas a famílias de não muitas pessoas e poucas virtudes. E todos estavam ali. Matas, animais e índios desafiavam os desbravadores. A força das armas de fogo suplantava os óbices. A cruz de Cristo perdoava os pecados. As atividades econômicas do garimpo do ouro, das pedras preciosas e dos rebanhos de gado precipitavam o progresso por aquelas plagas. O amor multiplicou os habitantes livres, mas não conseguiu atingir os miseráveis escravos negros. Contudo, todos eles foram trabalhadores pioneiros de grande valor: homens, mulheres, negros e índios.

O sol se pôs no horizonte, depois de uma trégua articulada com a chuva fina que caía sempre. Tomei o caminho de casa, rumo a Curitiba. Mas olhando pelo vidro semi-aberto vi, claramente, refletido no espelho retrovisor do carro, o aceno de um Tropeiro e de um Capitão-do-mato, saídos de um valão do brejo, em seus trajes de couro cru e lã pesada, desejando-me boa viagem...

A MORTE DAS ARAUCÁRIAS

No mês de fevereiro deste ano de 2007, estive novamente visitando a região da Serra Catarinense, mais precisamente, estive em Lages e nas cidades vizinhas. Admiro aqueles sítios e seu povo. A região serrana me impressiona por sua beleza e por um toque de magia, nunca identificado com exatidão. Pensava sempre que era algo atávico, pois meus pais nasceram no interior. Sempre me esforçava muito para conseguir desvendar o que sentia, quando lá chegava. Viajando pela diversificada região catarinense, sou um mero turista, encantado por sua beleza. Mas quais? São tantas! Não sei, precisamente. Seriam os ares amenos? O frio gostoso e gelado do inverno? O colorido dos campos plantados, celeiros da fartura? Seriam as matas de araucárias? Sim, é isso! Como são majestosas! Imponentes na sua verdejante verticalidade, abrindo os braços aos pássaros e derrotando, com seu pinhão, a fome do caboclo. Mas fico muito deprimido, constatando que poucas árvores sobraram, fruto de uma dendoclastia irresponsável e criminosa, mesmo. Pois é! Creio que é isso. Imagino como tudo aquilo foi um dia deslumbrante, maravilhoso e belo. E o que vejo são restos de uma beleza quase que totalmente destruída. A devastação dessas florestas sempre me atormentou. Deve ter sido um duro golpe naquela paisagem paradisíaca da serra. Tudo isso eu sentia, mas não atinava com as conseqüências imediatas do grande desastre da devastação. Mesmo assim, ainda sobrou ao alumbramento do viajante a visão balsâmica de muitas paisagens de matas nativas de pinheiros, por toda a Serra Catarinense. Politica e juridicamente, nunca procurei investigar o que aconteceu. Mas, hoje a coisa mudou, pois creio que encontrei a resposta. Não na Geografia Humana; não na História da Economia Agrária; não nos Alfarrábios nem nas Certidões dos Cartórios. Muito menos nos processos empoeirados dos Foros, nem nas Juntas Comerciais das Comarcas, que registram o progresso e o retrocesso, esse, materializado, quase sempre, em contratos esdrúxulos, precipitando a morte das silentes araucárias. Encontrei o que procurava na Literatura, nos textos literários que deixaram de freqüentar as escolas. É o que sempre digo! A verdade histórica não está nos livros didáticos. Meu Deus! Como eles mentem! Ela está no sentimento, na poesia, na maneira de se transfigurar o real, com arte, amor e devoção, fundando um novo significado, uma nova realidade, um novo discurso, sempre a ser desconstruído. Vejam o caso da descoberta da lendária cidade de Tróia. Heinrich Schliemann somente a identificou, depois de ler e seguir os vestígios ciclópicos localizados na Ilíada e na Odisséia de Homero. Pois bem! Foi lendo sobre a obra do escritor catarinense Guido Wilmar Sassi (1922-2003), texto elaborado por Enéas Athanázio, que encontrei as vozes do grande drama que ocorrera nos campos das esguias araucárias, onde o padecimento e o desespero de todos os serranos surgiram com a devastação desse tipo de pinheiro. Muitas histórias de sofrimento e dor serviram de mote às sagas captadas pela sensibilidade do escritor lageano. Algo tão devastador só poderia ter sido observado, registrado e mostrado, pela sensibilidade do poeta, para ser definitivamente entendido e não pela frígida mão do historiador, que registra os acontecimentos, talvez, para que, um dia, seja tudo esquecido... A voz do poeta, por ser transgressora, causa impacto e propicia profundas reflexões.
Leiam, agora, o excelente texto de Enéas Athanázio, sobre Guido Wilmar Sassi e sua obra.

TAMANHO NÃO É DOCUMENTO
Enéas Athanázio

"Guido Wilmar Sassi (1922/2003) tem sido lembrado com mais freqüência depois de falecido que durante a vida. Vestibulares recentes têm destacado sua obra nas questões formuladas aos candidatos, divulgando seu nome e propiciando a procura de seus livros. Isso é justo e merecido porque ele foi um dos maiores escritores catarinenses do Século XX e seu trabalho obteve repercussão junto a críticos brasileiros de prestígio e leitores em geral, merecendo publicação em Angola e tradução ao alemão para edição em antologia na Alemanha. Durante a vida, porém, foi quase sempre esquecido, fato para o qual parece ter contribuído seu afastamento voluntário dos meios literários durante longos anos. Fixando residência no Rio, seu contato com colegas catarinenses se tornou algo difuso. Dono de temperamento forte, nunca foi homem de meias palavras e não cultivava a política literária tão freqüente entre os homens de letras.Embora nascido em Lages, passou a infância e a juventude em Campos Novos, cidade de cujo clima se impregnou e que teria presença forte em sua ficção. O estilo da vida campeira, os usos e costumes do homem do campo, suas crenças e princípios morais, alimentação, vestuário, linguajar típico, a vegetação e a paisagem marcaram fundo as memórias do rapaz e depois transpareceram em seus contos. A exploração desenfreada do pinheiro e das madeiras de lei sem o menor respeito pelo ambiente tocou a sensibilidade do jovem que tudo observava com olhar agudo e que usaria essa experiência como tema de sua obra. A árvore valiosa que atiçava a ganância de aventureiros travestidos em "industriais" perdia a guerra em todos os fronts. Punham abaixo um pinheiro centenário com doze ou quinze metros de altura para extrair uma única tora de cinco ou seis metros; o restante permanecia ao abandono, em pleno campo, sem qualquer preocupação com o desperdício, como restos de alguma carcaça. Enquanto os tribunais discutiam os requisitos da propriedade de árvores destinadas ao corte sobre imóveis de terceiros, situação das mais comuns, e nunca chegavam a um entendimento, elas caíam aos milhares, talvez milhões, em toda a região. O lucro, canalizado para outras cidades, regiões ou Estados, escapava entre os dedos, sem nada deixar, exceto montes de serragem que queimavam por anos a fio e aleijados de serrarias, presentes com espantosa freqüência. Tudo isso, com o esmero do artífice, Guido soube colocar em seus contos sem intenção folhetinesca mas como registro de um período melancólico da sofrida história de nosso Planalto. Em raras ocasiões o pinheiro dava o troco e infligia uma vingança. Nem sempre a vítima escolhida era culpada e o santo acabava pagando pelo pecador. Por tudo isso, Guido foi considerado pela crítica como o iniciador do ciclo do pinheiro na literatura nacional. Comentando esse tópico, em 1958, o celebrado crítico e poeta José Paulo Paes escreveu que o ficcionista catarinense inaugurava em nossas letras o ciclo do pinheiro com seus contos e romances (*). No panorama do regionalismo, Guido foi o segundo expoente, em ordem cronológica, despontando depois de Tito Carvalho, o fundador da corrente, após longo hiato. Cada um, porém, guardava suas características pessoais e enquanto o primeiro dava ênfase à linguagem local, Guido se preocupava mais com os aspectos sociológicos, ainda que diluídos na ficção.Em Florianópolis, para onde se transferiu, teve ativa participação no Grupo Sul, defensor da renovação nas artes e nas letras do Estado, ainda que tardia em relação ao restante do país. Embora escrevesse desde cedo, Guido surgiu para as letras com a publicação de um de seus contos na célebre "Revista do Globo", de Porto Alegre, em 1949. Incentivado pelos integrantes do Grupo, deu a público os livros "Piá" e "Amigo Velho", ambos antologias de contos. Este último recebeu o prêmio Arthur Azevedo, do Instituto Nacional do Livro. Publicou ainda os romances "São Miguel", também merecedor de premiação nacional, "Geração do Deserto", adaptado para o cinema por Sylvio Back, e "Testemunha do Tempo", incursão na ficção científica. Participou em diversas antologias importantes, nacionais e estrangeiras, e mereceu aplausos de analistas como Paulo Rónai, Edgard Cavalheiro, Carlos Jorge Appel e Hélio Pólvora, entre tantos outros. Este último, em síntese feliz, asseverou: "Amigo Velho" é uma denúncia, da mesma forma que o são os romances nordestinos, as histórias sobre os seringueiros, os relatos sobre os peões do oeste, as histórias sobre o cacau. O contista catarinense transcendeu os limites do regionalismo puro e só; conhecedor da fórmula de Victor Hugo, uniu o grotesco ao sublime - e a denúncia virou obra de arte de caráter universal" (**). Em poucas palavras, o saudoso crítico faz duas revelações: a familiaridade de Guido com os clássicos e a possibilidade da universalização da literatura regional, tantas vezes posta em dúvida. "São Miguel" constitui um documento emblemático da exploração do pinheiro no Oeste, a par da exploração do próprio homem, e as histórias e lendas que cercavam o transporte da madeira nas famosas balsas que desciam pelo rio até a Argentina. Guido Wilmar Sassi foi dos poucos autores catarinenses do século passado a obter renome nacional.Em recentes vestibulares, Guido foi lembrado através de seu livro "Amigo Velho", cujo conto-título é justamente o que marcou a estréia do autor, fato que me conduziu a uma vagarosa releitura. A primeira edição é de 1957 (Edições Sul) e a segunda de 1981 (Editora Movimento). Foi desta última que recebi um exemplar, com gentil dedicatória do autor, e que guardo com carinho. O volume reúne sete contos, em apenas 70 páginas, confirmando o velho dito popular de que tamanho não é documento. Quase todos se relacionam com o pinheiro, sua exploração e a vida que transcorre em torno dele, nas vilas formadas pelas serrarias, nas cidades próximas e nos campos em derredor, cujo modus vivendi sofre abruptas alterações em face da chegada de estranhos, conduzindo maquinário, introduzindo hábitos e até linguajar diferentes, além de produzirem modificações profundas e rápidas no meio ambiente e na sociedade até então estabilizada nas lidas da agropecuária. Creio que sua leitura permitirá ao leitor imaginar com mais precisão a realidade daquele período que através de livros de história tradicional.Todos os contos são "pesados", para utilizar a divisão proposta por Monteiro Lobato, diferenciando-os dos "leves." Não chegam, porém, ao dramalhão. O drama, quando acontece, está mais nos fatos narrados que nas palavras usadas. A linguagem é sempre cristalina. Em "Amigo Velho", João Onofre padece todas as penas diante do corte de seu pinheiro de estimação, o amigo velho, cujas tábuas acabam servindo para a confecção da cruz que marcava sua sepultura. "Cerração" é o relato do transporte das tábuas de pinho até o porto de Itajaí. Velhos caminhões de reboque, carregados com cinqüenta dúzias de tábuas, vencendo com esforço as quebradas e lançantes de uma estrada "tão desgraçada que não tinha um só trecho que prestasse..." E na qual, em dia de cerração braba, o infeliz motorista Procópio morreu como tantos e tantos outros naquele serviço infernal. "Uma história dos outros" desvenda o crime horroroso que abalou "a pacata e hospitaleira cidade" onde cenas de sangue rareavam ou só aconteciam em entreveros de homens valentes, nunca de forma tão cruel. As reações das pessoas e o choque provocado na pequena comunidade são captados com perfeição, não faltando sequer algum sensacionalismo jornalístico. "Noite" é um caso raro em que o pinheiro vence, aplicando severa peça nos personagens, ainda que não me pareçam ser as vítimas certas. Tem um final pungente, escancarando a solidão e o abandono do pobre que vive na vastidão campeira. A pequenez do ser humano fica ainda mais visível porque não tem ninguém, absolutamente ninguém, a quem recorrer. "Prece de criança" é o mais suave de todos, uma história repleta de carinho e ternura. "Serragem" é um relato curioso. Tem como personagem central um daqueles montes que as serrarias deixavam como herança - a serragem - restos imprestáveis da madeira que passava pela serra. Esses montes, às vezes gigantescos, escondiam mil histórias e mistérios, amores clandestinos, acidentes horríveis e até crimes. Mesmo crescendo, não perdiam nunca o som balofo de terra oca com a "cor de coco ralado, mas sem a alvura deste." Contava-se que em Cerro Negro um desses montes de serragem queimou durante trinta anos ininterruptos. Nas chuvaradas o fogo se escondia, ardia nas profundezas, devorando por baixo, para voltar com tudo logo que o sol tornasse a raiar. "Vagão", por fim, serviu de excelente pretexto para rememorar a técnica dos carregadores de tábuas nos vagões da ferrovia (batedores de tábuas). Alguns operários se tornavam especialistas, carregavam em tempo recorde, tábua sobre tábua, pilha sobre pilha, não deixando diferença de milímetros nas beiradas e nos cabeços. Verdadeiros artistas, cada carga levava suas marcas, reconhecíveis como assinaturas. Os moradores distinguiam à distância quem estava na carregação pela freqüência do ruído das tábuas que caíam no monte. E, no entanto, enquanto carregava tanta madeira de qualidade, tábuas de primeira, vivia num rancho construído de costaneiras, refugos esburacados de nós, onde o vento gelado penetrava sem piedade, incomodando a criança. Todo o mundo madeireiro pulsando nesses contos que se entrosam e formam um painel impressionante. Até os nomes dos personagens eram recorrentes na região: Procópio, João Onofre, Anísio, Genésio, Bernardino... Retrato veraz e humano de um período econômico que passou, enriqueceu a muitos e empobreceu a região. Nada deixou, nem sequer saudade."Amigo Velho" e "Noite" são, para mim, obras-primas. Estão entre os melhores contos produzidos em nosso Estado.Como escreveu o crítico Paulo Rónai, "Guido Wilmar Sassi realiza obra de arte de alto valor." Ela permite um mergulho de corpo inteiro nas campanhas de nosso Planalto, convivendo com sua gente e as coisas da terra. Decorridos tantos anos, não surgiu outro Guido que o igualasse em técnica e inspiração. O ciclo da erva-mate, também rico em vivências, ainda não encontrou seu cronista. Está à espera de alguém que o fixe nas letras como fez Guido com o pinheiro. Mas o tempo passa e isso não acontece. Tudo aquilo se perderá no esquecimento"?


____________
(*) "Maravilhas do Conto Brasileiro Moderno", S. Paulo, Editora Cultrix, 1958, pág. 256.
(**) Orelhas de "Amigo Velho", segunda edição, P. Alegre, Editora Movimento, 1981.

21 de março de 2007

UMA LIÇÃO QUE PERDURA

Marco Túlio Cícero
Grande orador e político romano nasceu em Arpino, no ano 106 e morreu em 43 a.C. Obteve sólida educação na Grécia e se distinguiu como grade advogado. Foi cônsul em 63 a.C. e autor das famosas Catilinárias, discursos contra Catilina, a quem acusou de colocar em perigo a república e preparar um golpe de estado.

"Uma nação pode sobreviver aos idiotas e até aos gananciosos, mas não pode sobreviver à traição gerada dentro de si mesma. Um inimigo exterior não é tão perigoso, porque é conhecido e carrega suas bandeiras abertamente. Mas o traidor se move livremente dentro do governo, seus melífluos sussurros são ouvidos entre todos e ecoam no próprio vestíbulo do Estado. E esse traidor não parece ser um traidor; ele fala com familiaridade à suas vítimas, usa sua face e suas roupas e apela aos sentimentos que se alojam no coração de todas as pessoas.
Ele arruína as raízes da sociedade; ele trabalha em segredo e oculto na noite para demolir as fundações da nação; ele infecta o corpo político a tal ponto que este sucumbe".
(Discurso de Cícero, tribuno romano, 42 a.C.)

No Brasil, não há um traidor. Há vários. São todos os que enganam o povo, política e administrativamente, locupletando-se dos bens materiais alheios, do dinheiro do erário público, das verbas públicas e que praticam muitos outros crimes. Eles estão localizados no PODER CENTRAL desse Brasil infeliz. Têm nome e sobrenome, mas estão protegidos por uma “JUSTIÇA MACABRA”. Mas, segundo, ainda o grande tribuno romano,
nihil honestum esse potest, quod iustitia vocat”.

19 de março de 2007

A MENINA E AS PEDRAS

Que pedra tem a cor da flor?
Que pedra tem a cor da vida?
Que pedra tem o poder
De ter o poder do amor?
Só uma pedra querida
Que é tudo pra minha vida,
É a pedrinha-menina,
De todos os coloridos,
Mais os matizes do céu,
Pedrinha tão amorosa,
Mais do que preciosa,
Pedrinha, Maria Izabel.

18 de março de 2007

NOMES ESTRANHOS DE CIDADES BRASILEIRAS

Parece que está novamente nos noticiários o famigerado problema dos nomes exóticos das cidades do interior desse Brasil continental. No domingo, 11 de março desse ano de 2007, o programa Fantástico da TV Globo voltou ao tema. Mostrou nomes exóticos de vários municípios e a reportagem editou matéria lingüística sobre como são chamadas as pessoas que nascem nessas cidades. Creio que a produção do programa se fixou nos municípios mineiros.
Mas, em 2004, quando publiquei meu livro de crônicas, UMA FLOR AMARELA,

lá anotei um texto sobre esse assunto, que republico, agora, neste BLOG, pois quando enviei o escrito para
esse assunto de nomes estranhos de cidades brasileiras estava também em moda na mídia. Eram nomes esquisitíssimos de cidades do sul país, mais precisamente, do Paraná.
Muitos nomes estranhos de municípios aparecem em dicionários onomásticos da Língua Portuguesa, alguns até etimológicos, como é o caso do Dicionário de José Pedro Machado.

Para você recordar, especificamente, ONOMÁSTICA é o estudo lingüístico dos nomes próprios.


Mas vamos à crônica, publicada no jornal portenho, há alguns anos... Chamava-se:

MUDANÇA DE NOME


Por aqui sempre acontecem coisas que, queiram ou não, terão de ser comentadas, porque estão na boca de todo mundo e são mesmo notícias muito interessantes. Creio que, narrando esses fatos, mostro o atual estado das coisas públicas e dos políticos brasileiros, que, assim, podem ser julgados ou interpretados pelos leitores, tirando cada um as suas conclusões. São acontecimentos tristes e inusitados, merecedores de nossas crônicas.

Tristes são os escândalos de toda ordem que acontecem no nosso dia-a-dia, envolvendo nomes ligados aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Em muitas outras crônicas já falamos sobre eles e ainda falaremos muitas outras vezes. Quanto aos acontecimentos inusitados, bem... Esses são inúmeros, também. Mas escolhemos um, cheio de giro, como se diz aí na “terrinha de meus avós”.

Foi anunciada, em todos os jornais de Curitiba, a ida de muitos prefeitos do interior à capital do Estado do Paraná. Todos insatisfeitos com os nomes dos seus municípios vieram pleitear, junto ao governador, apoio financeiro para mudança imediata dos atuais nomes de suas cidades. São nomes estranhos, mesmo, como Matinhos,

Barra do Jacaré, Patos Velhos, Papagaios Novos, Pangaré, Mato Queimado, Periquitos e muitos outros.

Vejam só! Até que esses governantes têm razão, pois quem nasce no Paraná é paranaense; quem nasce em Curitiba é curitibano; quem nasce em Ponta Grossa é pontagrossense e por aí vai. Mas, quem nasce, por exemplo, em Barra do Jacaré, em Mato Queimado, em Pangaré ou em Papagaios Novos, como deverão ser chamados? Os prefeitos alegam que até o turismo fica prejudicado...

Mas reivindicação para mudança de nome de cidades não é coisa nova, não. Há tempos atrás, havia no sul do Estado do Espírito Santo uma pequena cidade chamada Veado. Quando o povo pode opinar de verdade e a ditadura desapareceu do mapa, o município, depois do resultado de um benéfico e espetacular plebiscito, também modificou o mapa geográfico da região e passou a se chamar Guaçuí.

Foi festa de três dias seguidos na cidade, que perdia, assim, o estigma de ter sido conhecida, durante anos a fio, como a terra das constantes piadas de mau gosto. E com toda razão...

O prefeito era a pessoa mais feliz do mundo até receber em seu gabinete uma correspondência oficial, em papel timbrado e tudo, lá de um deputado federal de Brasília, que a endereçava da seguinte forma: Exmo. Sr. Fulano de tal... , digníssimo Prefeito de Guaçuí, Ex-Veado.

16 de março de 2007

JOSÉ CARLOS LISBOA

José Carlos Lisboa
Em 12 de novembro de 2004, a Editora UFMG lançou o livro sobre José Carlos Lisboa. O livro, JOSÉ CARLOS LISBOA - O MESTRE, O HOMEM, foi organizado por Abigail de Oliveira Carvalho e Guy de Almeida. O lançamento ocorreu na Academia Mineira de Letras. O livro de 239 páginas reúne textos de diversos autores para abordar a vida e a obra do professor catedrático e emérito da UFMG e da UFRJ. José Carlos Lisboa foi um dos pioneiros na consolidação do ensino superior no Brasil, onde introduziu os estudos hispânicos e foi um dos criadores de curso de Comunicação Social. No livro estão textos de Affonso Romano de Sant´Anna, Alaíde Lisboa de Oliveira, Ana Maria Machado, Angélica Soares, Angelo Oswaldo de Araújo Santos, Astrid Cabral, Branca Bakaj, Carlos Lemos, Célia Therezinha Guanabara, Cláudio Murilo Leal, Cleonice Berardinelli, Domício Proença Filho, Eduardo Portella, Guy de Almeida, Helena Ferreira, Izacyl Guimarães Ferreira, Joaquín de Entrambasaguas, José Carlos Lisboa Jr., José Carlos Lisboa de Oliveira, Lauro Tinoco, Letícia Malard, Margarida Alves Ferreira, Maria Antonieta Cunha, Maria Thereza Venancio, Marlene de Castro Correia, Melânia Silva de Aguiar, Murilo Badaró, Silviano Santiago, Stella Leonardos, Vera Maria de Azambuja Harvey e Zuenir Ventura.
Esta nota tem razão de ser colocada nesse BLOG, porque sucedi José Carlos Lisboa na ACADEMIA BRASILEIRA DE FILOLOGIA. Na ocasião de minha posse, reverenciei a fugura desse ilustre filólogo brasileiro, professor universitário com sólida formação humanística, eclético conhecimento científico, formado em Farmácia e Direito, por vocação, que exerceu o magistério, de maneira exemplar, imprimindo em seus alunos, durante a sua longa vida, o gosto pelas letras e artes. José Carlos Lisboa foi professor catedrático de Língua e Literatura Espanhola da então Universidade do Brasil e foi agraciado com o título de Professor Emérito da UFRJ, onde criou e dirigiu o Curso de Jornalismo, tendo sido, também, o seu primeiro Diretor. Hispanista, filólogo, escritor rigorosíssimo em suas pesquisas, esse mineiro da cidade de Lambari, de modesta família típica do interior brasileiro, um dos 14 filhos de João de Almeida Lisboa e de Maria Rita de Vilhena Lisboa, irmão da poetisa Henriqueta Lisboa e da pedagoga Alaíde Lisboa de Oliveira, iniciadora da Didática Nova, pautou-se, em sua longeva existência, pelo exemplo de caráter e escorreita conduta profissional, fazendo de cada aluno um amigo e de cada amigo um admirador. Não tive a sorte de com ele conviver, mas tivemos amigos comuns, que sempre a José Carlos Lisboa se referiam com carinho, respeito e apreço. Um desses amigos comigo participou intensamente na tentativa de implantar tecnologias educacionais, revolucionárias para a época, no Ensino Médio de Segundo Grau, nas escolas públicas do Estado. Refiro-me ao pranteado professor, também hispanista, Nílson Storino Laplana. José Carlos Lisboa foi diretor de publicações e divulgação da Biblioteca Nacional; membro do Conselho Nacional de Cultura, fundador, diretor e professor do Ateneu García Lorca. Foi fundador e conselheiro do Instituto Brasileiro de Cultura Hispânica; foi ex-presidente do Centro de Estudos Hispânicos da Universidade do Brasil, que também idealizou e organizou. Fundou, ainda, o Seminário Menéndez Pidal, da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Consagrou sua vida ao magistério universitário e à literatura espanhola. Foi, ainda, Professor fundador e catedrático de Língua e Literatura Espanhola da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais. Sua obra intelectual é extensa.
Publicou pelo MEC:

1- TIRSO DE MOLINA, CRIADOR DE DON JUAN;
2- TEATRO DE CERVANTES; ISABEL A DO “BOM GOSTO”;
3- A CASA DO BODE ( peça folclórica) em co-edição com Selo de Ouro;
4- UMA PEÇA DESCONHECIDA SOBRE OS HOLANDESES NA BAHIA (1ª edição do texto espanhol, estudo, tradução, modernização da peça, de Juan Antonio Correa) - co-edição com o INL.

Publicou pelo Instituto Nacional do Livro (INL):

1- O BRASIL RESTITUÍDO, de Lope de Vega (estudo, tradução, modernização de peça);
2- VERDE QUE TE QUERO VERDE, ensaio de interpretação do Romanceiro gitano, de Federico García Lorca, co-edição com Zahar Editor.

Publicou pela Editora Comunicação, em convênio com o INC / MEC:

1- A RAINHA DAS ONÇAS, romanceiro e teatro popular.
2- FILHOS PARTIDOS, novela em três pessoas.

Publicou pela Editora Civilização Brasileira:

1- A NUMÂNCIA, de Cervantes (estudo, tradução, modernização da peça).

Publicou pelo Serviço Nacional de Teatro / Ed. Dionisos:

1- GARCÍA LORCA, VIDA E OBRA.

Publicou pela Biblioteca Nacional:

1- O CURSO DE LETRAS NEOLATINAS.
Sua Tese de Cátedra, pela Editora Sedegra é GARCÍA LORCA E “BODAS DE SANGUE”.

Pela Livraria José Olympio editou sua última obra, em 1985, o romance VICENTE E O OUTRO, que nas palavras de Antônio Carlos Vilaça “é um romance autobiográfico ... e o crítico, o ensaísta, o professor universitário, o tradutor abrem alas para o romancista que toma em mãos o seu texto e o modela como narrativa”.
A obra de José Carlos Lisboa denuncia a alma do poeta que nele habitava. Amou todas as manifestações de vida e foi amado. Foi, acima de tudo, uma figura humana muito especial, magnânimo e amigo, generoso e bom.

15 de março de 2007

O KITSCH

Vamos apresentar alguma coisa sobre o KITSCH, para você recordar ou se servir de nossas informações para seus trabalhos escolares. Se valer a pena, sirva-se, à vontade!



KITSCH é um termo empregado por E. Morin, em L'Esprit du Temps.




* Corresponde a uma função social.
* Relaciona-se a uma época da gênese estética.
* Relaciona-se, ainda, a um estilo de arte.



KITSCH pode ser considerado, ainda, como uma dimensão do objeto, relacionado com o ser.

O termo KITSCH apareceu, primeiramente, em Munique e se prende ao alemão KITSCHENVERKITSCHEN significa enganar (numa venda, numa transação). Logo, uma negação do autêntico.


KITSCH é uma obra mal executada.”Secreção artística na venda e comércio, na sociedade burguesa”. Observe as quinquilharias dos camelôs.


KITSCH está ligado à arte, à Indústria Cultural. Este termo tanto pode ser adjetivo, como substantivo.



KITSCH é a antiarte. A cada manifestação da arte corresponderá um surgimento KITSCH. É a instalação do homem no mundo da Arte. É a esterilização do subversivo.


Há em todo KITSCH o gosto do consumidor. É sempre bom lembrar que a estética se localiza na ótica do receptor.

O KITSCH está ligado a uma situação da sociedade. Ao acesso da influência das classes dominantes ao mundo da ARTE.

O KITSCH se revela claramente na civilização burguesa.

O OBJETO E O KITSCH

O B J E T O - É um elemento que nos cerca. Dado primário do contacto do indivíduo com o mundo.

A civilização industrial do Ocidente é caracterizada pela fabricação de objetos.

Nesta civilização fervilham os objetos, basicamente, porque:
a) desenvolve a tendência de aquisitividade;
b) desenvolve a multiplicidade;
c) desenvolve o consumo.

O Objeto pode propiciar a criação de um status social. O “homo faber” consome mais objetos do que os fabrica.

Todo objeto é portador de FORMA. Observem as canetas, os automóveis, os telefones etc. Todo objeto pode ser percebido pela psicologia gestáltica (Gestalt).


A existência do objeto é uma mensagem. O objeto é uma mensagem. Veja como funciona: o EMISSOR (criador, vendedor do objeto) >>>>>> MENSAGEM (o objeto) >>>>>> RECEPTOR (a particularidade).

Pode-se dizer que o objeto possui MORFEMAS. O Objeto é COMUNICAÇÃO. (Cf. Marshall McLuhann: "o meio é a mensagem"). A Produção em massa de objetos transforma a comunicação em comunicação de massa.

OBJETO COMO MODO DE COMUNICAÇÃO

1- Será portador de formas. É o ponto de vista do criador que estará em jogo. Ex: Torneiras curvas, retas etc. Lembrem-se: "os olhos vêem, o tato percebe".

2- Existe um contacto que o homem mantém com os objetos. Ex: Observe como o homem trata os objetos nas lojas, em casa, nos supermercados, nas feiras livres, nos shoppings etc.

3- Há um contacto humano interindividual. Ex: Observe que muitos de nós, em vez de enviarmos cartas ou telegramas ou darmos telefonemas, enviamos um objeto (buquê de flores ou jóias) a pessoas especiais, em dias especiais. Isto significa que utilizamos, através de objetos, mensagens simbólicas. Aí o objeto é personalizado, mais pelo seu remetente do que pelo seu criador.

4- O objeto é ocasião de contacto humano. Ex: Para se obter um objeto, manuseá-lo, mesmo, o homem se relaciona com os seus semelhantes, na ida a uma loja, a um outro ponto de comércio qualquer, como nas feiras livres, nos magazines etc.

5- Pode ficar estabelecida uma sociologia dos objetos. Isto se dá quando invocamos a idéia de coleção. Exposições, amostras, arranjos etc. Tal comportamento leva o homem a estudar uma massa de objetos.

O QUE É UM OBJETO?

ETIMOLOGIA. Vem do Latim OBJECTUM (ob-jacere) = lançado contra. Coisa existente fora de nós, com a característica de que se oferece à vista e afeta os sentidos.

FILOSOFIA. Aquilo que é pensado e se opõe ao ser pensante (sujeito - sub-jacere = lançado por baixo).

ESPECIFICIDADES

a) O objeto resiste ao indivíduo e tem características materiais.

b) Na nossa civilização, o objeto não é quase nada do mundo da natureza. Ex. Uma pedra não é objeto (falta-lhe função social. Se tiver, aí já é considerada como objeto). Um pássaro não é objeto (o mesmo caso da pedra ).

c) Objeto tem uma característica passiva e fabricada. É produto do homo-faber, portanto, fabricado pelo homem e que este deve assumir ou manipular. Mais ainda. É o produto de uma civilização industrial, logo, será um elemento do mundo exterior. Ex: Caneta esferográfica, isqueiro, ferro de passa roupa etc.

d) O objeto é caracterizado por suas dimensões. É inferior à escala do homem. Nem mais, nem menos. Superior ao milímetro e inferior a 86/140 cm, segundo Modulor. Assim, uma bactéria não é considerado objeto. Nem um Transatlântico também não é um objeto.

e) O Objeto tem uma característica passiva e será sempre submetido à vontade do homem. Isso quer dizer que ele pode ser manipulado.

O OBJETO KITSCH

Define-se por uma alteração em sua funcionalidade. Ex. A caixa de música; O suporte de bolo; O suporte da árvore de Natal; O isqueiro; O cinzeiro; A imagem (ícone pingüim) que enfeita a geladeira etc. Os objetos kitsch funcionam e decoram. Apresentam um acréscimo suplementar. Quem acrescenta é o intermediário, não é o criador do objeto primitivo. Nos exemplos acima, a caixa de música serve para guardar outros menores objetos, mas sua funcionalidade foi alterada. Ele serve, agora, para o deleite e para enfeitar, também. O suporte de bolo pode servir para muitas outra coisas, inclusive para ficar sem nenhum bolo em cima, “enfeitando” uma mesa. O suporte da árvore de Natal, pode servir, do mesmo modo, para suportar outras coisas e até “enfeitar” um ambiente. O isqueiro em cima de uma mesa de escritório pode servir de decoração, mesmo que o seu dono não seja fumante. Do mesmo modo funciona o cinzeiro. O pingüim da geladeira tenta lembrar o frio...mas o pingüim não está dentro e sim fora, logo funciona, também, como informação e como “enfeite”.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO KITSCH

1- Universalidade;
2- Valor burguês;
3- Processo de produção;

4- Atua: a) na literatura; b) no mobiliário; c) na decoração; d) na música; e) nas artes, em geral.

5- Arte de viver do homem médio, cidadão da prosperidade.
6- Abundância na sobriedade (volume e quantidade).
7- Identidade com o rococó.


OBSERVEM ESSES EXEMPLOS DE KITSCH. TENTEM UMA PEQUENA ANÁLISE SOBRE ELES. VEJAM O QUE SÃO. O QUE REPRESENTAM. COMO PODEM SER DEFINIDOS.



















SE HOUVER ALGUMA DÚVIDA, ENTRE EM CONTATO CONOSCO.

GOSTARAM?

14 de março de 2007

TERMOS DO FUTEBOL EM PORTUGAL


Em 1998 publiquei pela Sociedade Brasileira de Língua e Literatura, Rio de Janeiro,
BRASIL X PORTUGAL, UM DERBY LINGÜÍSTICO.
Toda a pesquisa foi feita em terras lusitanas, quando fui para lá, oficialmente credenciado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde lecionava, cumprindo os rituais de um semestre sabático. Retornando ao Brasil dei formato de livro à pesquisa de campo. Assim, vou apresentar, agora, nesse espaço cultural alguns comentários sobre a linguagem do futebol português, observada nos estádios, junto ao povo; nos jornais; nas revistas especializadas; nas rádios e nos canais de televisão.

Se você estiver interessado em adquiri-lo, entre em contato pelo endereço eletrônico lcfeijo@uol.com.br.



À ALTURA DOS PERGAMINHOS


Henrique Botequilha, jornalista do jornal O Semanário, de Lisboa, diz que essa expressão é usada "quando uma equipa de grande reputação joga bem" . Assim, o futebol é visto como arte nobre. Trata-se de uma visão elitizante do jogo. A expressão "à altura dos pergaminhos" é de conotação erudita, e está associada à respeitabilidade, à dignidade, à nobreza, à história. Diz-se assim, quando se quer fazer um comentário a uma equipe de grande reputação, que obteve ou deveria obter bom resultado e não se poderia dela esperar outra coisa que não fosse a de jogar um futebol de primeira qualidade. Mas nem todos os ouvintes ou leitores entendem o significado dessa expressão, principalmente se não forem aficionados do futebol. Pudemos comprovar isso, em Portugal, ao realizarmos pequena enquete com algumas pessoas, todas de nível superior, mas sem ligação nenhuma com o futebol. Pedimos que nos dessem os significados de alguns termos ou expressões tiradas dos jornais especializados ou ouvidas em transmissões de rádio, como foi o caso de "à altura dos pergaminhos". Ninguém soube os sentidos dos termos ou expressões. Podemos concluir que estamos diante de uma expressão não entendida por todas as pessoas do mesmo grupo social, caracterizando-se diferentes repertórios lingüísticos dentro do grupo, o que vale dizer, caracterizando o diastraticismo, pois formas diastráticas são diferentes falares num único ambiente sócio-cultural.


BOLA É REDONDA


Na gíria do futebol brasileiro existe a expressão "jogar uma bola redonda", que significa jogar muito bem. Em Portugal a expressão a bola é redonda é usada para uma advertência, na véspera do jogo. As frases ou os ditos populares mostram que a advertência fica sempre bem marcada com breves definições ou afirmações óbvias, como: "O mundo gira"; "Todos os rios correm pro mar"; "Quem planta vento, colhe tempestade" e muitas outras. A bola é redonda tem o significado de advertir, dizendo-se que tudo pode acontecer, pois a bola é redonda... e rola igualmente para os dois times que se confrontam. A bola pode rolar para um lado ou para o outro. Qualquer um dos times pode vencer. "A bola é redonda, sabes?" Corresponde, no Brasil, a: "o vento que venta lá, venta cá" ou ainda, "o risco que corre o pau, corre o machado" , outras, entre várias frases feitas, portadoras do sema advertência.


ACROBÁTICO


"Gesto de um jogador particularmente vistoso; esgalhado com acrobacia", como define Henrique Botequilha. Vistoso deverá ser o gesto e não o jogador. Se for o contrário estaremos diante de uma hipálage. Um jogador vistoso pode não ser acrobático. Assim, pode-se ver no termo acrobático, adjetivo relacionado a gesto, um vocábulo relacionado ao sema CIRCO, onde existem espetáculos tão maravilhosos como os do futebol.



ACUTILÂNCIA


Neologismo formal. Não está dicionarizado. É termo empregado nos comentário das partidas de futebol, em Portugal, por locutores e comentaristas de rádio, televisão e jornais especializados. "Um momento do jogo em que uma equipa está mais forte do que a outra". "Determinação; mais perigo; mais agressividade; a equipa está com mais ênfase em algum setor", segundo Henrique Botequilha, ACUTILÂNCIA refere-se à agressão com o cutelo. Pode ser que esteja aí o sentido deste neologismo, pois ACUTILAR é dar cutiladas em; é golpear. Por sua vez, ACUTILAR é corruptela de ACUTELAR, de cutelo. Se uma equipe está mais agressiva do que a outra, a mais agressiva ataca com muita veemência e fica mais forte do que a outra. Mais um termo do campo semântico da violência.


ADEPTOS

São os torcedores. Adepto, do latim adeptu, aquele que é iniciado nos dogmas da ciência. Quem, após uma iniciação, passa a ser partidário de uma religião. No futebol, a idéia é a mesma, mas não precisa iniciação...

ADJUNTO

É o auxiliar técnico. O futebol foi buscar, talvez, na linguagem acadêmica este termo. Auxiliar, Adjunto, Titular são termos empregados no âmbito do magistério superior.



ALA DIREITA


Expressão política, aproveitada na linguagem relacionada aos comentários de partidas de futebol, em Portugal, pela crítica esportiva, encontrada nos periódicos especializados. Quanto a este procedimento, é oportuno citar parte do artigo Os tempos negros da censura, de Carlos Miranda: "O Baptista Bastos admite que nós, os desportivos, também resistimos um bocado, com o uso de metáforas, que normalíssimas no sector desportivo, ganhavam outro aspecto, quando interpretadas num segundo sentido. E citou exemplos: ‘Como a palavra vermelho estava (e está, queira ou não) associada à Esquerda, muitos de nós (mas nem todos, repito) usávamo-la, habitualmente nos títulos dos relatos de futebol onde participava o Benfica. Assim por exemplo: ‘Os vermelhos esmagam a inércia de..., ou ‘Vermelha é a cor da vitória’ ou ainda: ‘Força, vermelhos!’, com ponto de exclamação e tudo". Outro caso: ‘O dia do Operário’. A censura não leu e não gostou. Tratava-se do Operário Futebol Clube. (A Bola, 22/09/85, p.36).

ALTO-RISCO

"Um Benfica-Porto é um jogo de alto-risco; desafio de grande tensão, possível de bofetadas", nas palavras de H.B. Um jogo de alto-risco é aquele em que pode haver confronto entre as torcidas, dentro dos estádios, resultando sérias conseqüências pelas atitudes agressivas e beligerantes dos espectadores. Está ligado à violência fora e dentro do gramado onde o jogo de futebol se desenrola. Esta expressão está presente também fora da linguagem dos esportes, como pode-se observar nos comentários jornalísticos que focalizam temas como a síndrome do HIV, por exemplo. Em Portugal não se usa o termo AIDS. Lá o termo usado é SIDA, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Parece que a trajetória da expressão ALTO-RISCO foi de fora para dentro da linguagem dos esportes de massa, que a acolheu. Um caso de migração da língua comum para a linguagem do futebol.



ÂNGULO

"Figura formada por dois semiplanos com as mesmas origens, possíveis de serem encontrados nas balizas" (HB). Este termo também é muito usado pelos locutores e comentaristas de futebol no Brasil. "Foi no ângulo", "bem no ângulo", "a bola entrou bem no ângulo" são expressões muito ouvidas. Trata-se de um raro momento lingüístico em que a denotação predomina na linguagem especial do futebol. Contudo, não se pode deixar de ver neste termo um certo saber matemático, escamoteado nas frases acima apresentadas. Observe-se que a forma popular, no Brasil, onde a coruja dorme é muito usada.


APANHA-BOLAS

Substantivo masculino. Mais um termo formado por analitismo. Corresponde ao termo gandula aqui no Brasil. Mais um caso de formação analítica (forma composta de duas ou mais palavras) de termos ligados ao futebol, em Portugal. No Brasil, muitos termos estrangeiros do futebol surgem por sintetismo, quando se adaptam à fonética da língua portuguesa. É o caso de córner = escanteio, em Portugal, pontapé-de-canto; kick-off = saída, em Portugal, pontapé-de-saída; shoot = chute, em Portugal, pontapé-na-bola ou, também, chuto; off-side = impedimento, em Portugal, fora-de-jogo; goal-keeper = goleiro, em Portugal, guarda-meta, guarda-redes; penalty = pênalti, em Portugal, grande-penalidade ou, também, penálti.




ATIRA-SE PARA A PISCINA



Expressão da gíria do futebol português. Diz-se quando o jogador atacante, dentro da área do adversário, lança-se ao chão para simular a falta máxima (o pênalti), como se estivesse a mergulhar na piscina, mesmo sendo barrado legalmente. Metáfora plástica. "...vai passar; atira-se para a piscina..." (RTP, Canal 1, jogo FC Porto 0 X 1 Panathinaikos, 1995).

BALNEÁRIO

É o vestuário. "...tiro-o e ponho-o conforme a disposição, mas, nos jogos, fica no balneário..." (Entrevista de Dominguez, jogador do Sporting e da Seleção Portuguesa, dada a Magalhães dos Santos, em A Bola, 23/09/95, p. 37). José Dominguez é chamado pela crônica esportiva de "Speed" Dominguez, pela sua velocidade em campo. Tanto em Portugal, como no Brasil, esta prática é comum. No Brasil, o jogador do Fluminense (1995) Waldeir era chamado de "The flash", pelo mesmo motivo.




BANCADA




Substantivo feminino. De Banco + ada. É a arquibancada de um estádio de futebol. Bancada e arquibancada significam a mesma coisa, tanto no Brasil como em Portugal. Lá, o uso esportivo escolheu bancada, aqui, escolheu arquibancada, o que não quer dizer que não se possa usar bancada. Rubens Braga, na cônica A EQUIPE, de 1952, diz: "Nós todos envergando essas cores sagradas; e no coração, dentro do peito, cada um tinha uma namorada na bancada". Em Portugal também se ouve na voz de muitos locutores de rádio e televisão o termo arquibancada, mas o mais comum é bancada. "...até porque o nervosismo entrou no relvado através das bancadas, onde os adeptos vimaranenses foram mostrando o seu desagrado" (A Bola, 29/10/95, p.14). Vimaranense é adjetivo de dois gêneros. Significa de, ou pertencente, ou relativo, ou natural, ou habitante de Guimarães, cidade do norte de Portugal.
Gostaram? Vamos continuar apresentando os termos do futebol português, comentados sob vários aspectos, mas, basicamente, o lingüístico.

8 de março de 2007

O ATO SÊMICO: RESUMO E DICAS






E M I O L O G I A

Você que é estudante de Comunicação Social e quer se aprimorar nos estudos da Teoria da Comunicação ou se é estudante de Letras e se interessa por Semiologia, Lingüística ou Semiótica, ou se você é apenas uma pessoa interessada nos estudos da linguagem de um modo geral, estamos disponibilizando nesse BLOGGER vários artigos nossos, resumos e resenhas sobre os discursos que falam do signo. Hoje apresentamos um resumo sobre o Ato Sêmico. Se isso lhe interessar, esteja à vontade para interagir conosco e bom proveito.

SOBRE O ATO SÊMICO


Vida Social - Interação, recorrência, participação, compartilhar nossas emoções.

Colaboração - Deve-se dar a conhecer ao outro o que se passa em nós, isto é, o nosso estado de consciência.

Nosso estado de consciência não pode ser conhecido ou percebido pelo outro. Não posso transportá-lo para o outro. Por raciocínio, posso reconstruir o que se passa, em parte, na consciência do outro.

Observem:

1- Vejo uma criança pulando para alcançar um objeto. Por lembrar-me que já fiz o mesmo e como era para pegar um objeto, deduzo que este é o desejo daquela criança.

2- Quando vejo um cão agitar o rabo, digo que ele está alegre, pois sempre que lhe faço festas nesses animais eles assim se comportam. Tudo isso são interpretações.

Estas interpretações deram origem à idéia de uma linguagem natural.

Essa Linguagem Natural não pode ser assimilada à fala. A criança e o cão não deram a conhecer seu estado de consciência. Foi tudo interpretado por mim. Não tiveram a intenção de me dar a conhecer seu estado de consciência. Eles não se comunicaram comigo. Não houve comunicação. Foi tudo por mim interpretado. A “Linguagem Natural” será, quando muito, um índice, pois ÍNDICE é interpretação. É ver a causa do que se observa. É o diagnóstico do médico. Ex:

1- As flores de gelo - índice de geada;
2- Céu escuro - índice de tempestade;
3- Multidão correndo para um veículo - índice de um acidente de trânsito;
4- Fumaça na floresta - índice de incêndio.

Índice = Linguagem Natural. Todos estes índices têm uma significação, mas eles não querem se comunicar comigo.



Leonard Bloomfield

Já a fala é um ato de negociação. Lembrem-se do exemplo Jack e Jill de L. Bloomfield, a base da colaboração e do trabalho.

Se o cão ou alguém manifestou um desejo, isto não é involuntário. É um meio a serviço de uma vontade. É o caso da historinha de Jack e Jill, onde os sons produzidos por Jill representam um ato social.

Os gestos.

1- Comunicação – Ocorre quando, junto com palavras ou não, eu informo ao outro o meu comportamento psicológico ou o meu estado de consciência. Trata-se de algo consciente; um meio consciente.

2- Índices – Observem que gestos, como coçar a cabeça, dar socos na mesa e muitas outras coisas semelhantes são meras interpretações. Eu adivinho o efeito.

Fato Semiológico

Se alguém compreende a significação de uma frase como abra a janela ou a significação de uma placa de trânsito é porque “adivinhou” a intenção, implícita no meio.

Logo, interpretar efeitos leva-nos ao conceito de índices.
Interpretar meios leva-nos ao conceito de fato semiológico.

O fato semiológico é um ato de comunicação e constitui uma RELAÇÃO SOCIAL.

Modalidade

O ato de comunicação se observa melhor num caráter chamado modalidade.

A modalidade se desenvolve melhor e ao máximo nas línguas, pois a língua é um meio de relação social.

Toda e qualquer língua apresenta 4 caracteres de modalidade.

Numa língua qualquer, as frases podem possuir 4 caracteres de modalidade:


1- Afirmativas – Servem para informar alguém;
2- Interrogativas – Servem para interrogar alguém;
3- Imperativas – Servem para dar ordens a alguém ou tomar alguém por testemunha de meu desejo. Ex: "Veja que eu não estou brincando!”.
4- Optativas – Servem para exprimir o meu desejo a alguém. Ex: “Quero que saias". (Isto pode ocorrer através da entoação ou da ordem das palavras na frase).

Sinalização rodoviária: 2 caracteres de modalidade:

1- INJUNÇÕES – São obrigações: Placas azuis. Proibições: Placas redondas, brancas e vermelhas.
2- INFORMAÇÕES – Através de triângulos que mostram os perigos e retângulos que mostram várias outras situações.

Há código de comunicação com apenas 1 caráter de modalidade. (essa modalidade não indica o código) Por ex. Código matemático ou químico ou código de sino de igreja ou código de toque de clarim do exército.

O que existem são símbolos matemáticos, químicos, cartográficos (modalidade só afirmativa); símbolos musicais dos sinos e símbolos musicais dos toques de clarim (modalidade só imperativa).

A modalidade é um caráter que indica um fato psicológico e um gênero de relação social que o falante estabelece com o ouvinte, sob um ponto de vista semiológico.

A modalidade tem caráter social.

1- INDICA UM FATO PSICOLÓGICO (Ponto de vista subjetivo) Ex. Os modos verbais.

Modos: formas pelas quais é indicada a atitude do falante com relação ao processo verbal.

Modo indicativo - Atitude de realidade: compro, comprava, comprei, (comprarei?), (compraria?).

Modo subjuntivo - Atitude de hipótese: compre, comprasse, comprar.

Modo imperativo - Atitude de ordem (ordenar): compra, comprai.



2- INDICA UM GÊNERO DE RELAÇÃO SOCIAL QUE O FALANTE ESTABELECE COM O OUVINTE (Ponto de vista semiológico) Ex. Quando quero saber se meu irmão está em casa, posso perguntar:

a) - interrogando - Meu irmão está em casa?
b) - afirmando - Desejo saber se meu irmão está em casa.
c) - ordenando - Diga-me se meu irmão está em casa.
d) - desejando - Ah! Se eu pudesse saber se meu irmão está em casa!

Observe que do PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO o falante exprime sempre o mesmo desejo. Logo, O PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO não permite distinguir as modalidades.

Mas do PONTO DE VISTA SEMIOLÓGICO a diferença é grande. Cada modalidade corresponde ao desejo de se estabelecer uma relação social particular. É a modalidade que indica o gênero de relação social que o falante estabelece com seu ouvinte.

Observe:

a) interrogando...................... Função social do filósofo;
b) afirmando.......................... Função social do cientista;
c) ordenando.......................... Função social do poder material, do ditador;
d) desejando.......................... Função social do poeta.



Charles Sanders Peirce




O estudo dos signos, pois, apresenta duas tendências:

A Primeira, baseada na visão de Peirce, privilegiando a sua classificação dos signos em ícones, índices e símbolos, fica independente em relação à Lingüística. O ramo norte-americano de Peirce denomina-se Semiótica.

A Segunda liga-se aos estudos lingüísticos, que empresta o seu modelo aos demais sistema de signos. O ramo europeu de Eric Buyssens, de Saussure, denomina-se Semiologia.

Eric Buyssens


Atualmente existem duas grandes abordagens:

Uma tem como preocupação as particularidades semióticas de inúmeras linguagens e sistemas formalizados, inúmeros sistemas de signos. Este ramo está ligado aos discursos científicos do universo físico-natural, como a matemática, a lógica simbólica, a cibernética etc. Estamos diante dos estudos do campo da
Semiótica.
Ferdinad de Saussure


Outra tem como preocupação as particularidades e especificidades dos discursos de saber, que são os discursos científicos do universo cultural, ligados às diversas teorias psicológicas do signo. Estes estudos podem ser encontrados nos trabalhos de Charles W. Morris, de Jacques Lacan, de Roland Barthes e outros. Estamos diante dos estudos do campo da Semiologia.
Charles W. Morris



Contudo, esta oposição de nomenclatura, semiótica X semiologia, não é rigidamente seguida, pois o próprio Morris estabeleceu um esquema tridimensional para a Semiótica:

1- A dimensão sintática que trata da relação dos signos com os outros signos;
2- A dimensão semântica que trata da relação dos signos com os referentes;
3-
A relação pragmática que trata da relação dos signos com os usuários.
Roland Barthes


Roland Barthes, um dos mais produtivos teóricos da semiologia, nos últimos anos de sua vida, atuou criticamente neste campo, tentando fazer a leitura do social, através dos conceitos psicanalíticos do grande teórico francês da psicanálise freudiana, Jacques Lacan, dedicando-se às análises das mais variadas manifestações da comunicação de massa, dos fatos publicitários, da moda, da música, da fotografia e do mito, chegando a inverter a relação saussuriana, afirmando que a Semiologia é uma parte da Lingüística.


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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.